Wishlists: lidando com o insustentável desejo de ter

www.zara.com

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A moda provoca desejo. Vemos as novas produções de um designer e as desejamos. Lemos uma revista de moda com belas imagens e desejamos. Caminhamos por um centro comercial window shopping, observando as novas tendências e, muitas vezes, desejamos. Observamos a bela produção que envolve o corpo de uma amiga, de uma desconhecida pelas ruas ou de alguém que seguimos no Instagram e desejamos. Lemos blogs de moda e desejamos (cada dia algo novo). O mercado da moda disponibiliza constantemente novos objetos de desejo. Baseia-se em uma potencialidade (algo a se concretizar que trará mais satisfação para os nossos corpos), em uma esperança (de ser um sujeito mais satisfeito e realizado a partir da posse de determinado produto). Ou seja, a moda aponta sempre para um futuro, para um vir-a-serPor isso, podemos destacar o aspecto virtual da moda que diz respeito, justamente, a isso que ainda não é, mas que será. Algo imaginado ainda a ser consumado, consumido.

O mercado e a industria da moda valem-se do aspecto insaciável do desejo, produzindo sempre novas esperanças. Parecemos ter a liberdade de escolher o que quisermos (pelo menos dentro dos limites de nosso poder aquisitivo), mas, de fato, somos induzidos a consumir continuamente bens e formas de utilizá-los. Quando não conseguimos responder ao imperativo do consumo (efeito da combinação de nosso modo de gozar com os mecanismos de mercado), muitas vezes, ficamos frustados.

Por isso, precisamos pensar sobre a moda e o desejo. Precisamos inventar, também – dentro da questão do estilo – uma forma de se colocar no mundo como consumidores. Precisamos criar uma forma de consumo sustentável e singular, adaptado ao nosso gosto e estilo de vida . Isso faz parte do estilo. Por isso gosto muito do blog Um ano sem Zara. Joana, a autora, inventou uma forma de consumir que a livrou de continuar sendo engolida pelo mercado da moda e sem ter que abrir mão de suas criações. De minha parte, confesso que ainda estou tentando inventar meu estilo de consumo. Sou muitas vezes ultrapassada pelo desejo de ter e acabo gastando o que não deveria. O fato de pensar e escrever sobre moda tem me ajudado a lidar melhor com meus impulsos. Além da escrita, criei uma outra estratégia (que também envolve a escrita): compor listas de desejo. Sempre tive mania de fazer listas e, há algum tempo, tenho também a mania de navegar pela internet e observar as novidades nas lojas online. Então, o que faço é criar wishlists (tanto nas próprias lojas quanto em um caderninho de papel) das peças e tendências que mais gosto. Crio listas e mais listas e isso sacia grande parte das minhas vontades imediatas (na grande maioria das vezes não compro os produtos), além de evidenciar para mim mesma os meus gostos e me orientar quando, de fato, vou fazer minhas compras. Bem, é isso. Funciona no meu caso e é bastante divertido. O trabalho no sentido da redução também é interessante: disso tudo, o que realmente quero?

Acima, alguns ítens da minha wishlist de produtos da Zara e, abaixo, minha wishlist do Net-a-Porter:

Moschino, McQueen & Karl Lagerfeld at NetaPorter.com

Moschino, McQueen & Karl Lagerfeld at NetaPorter.com

 

10 thoughts on “Wishlists: lidando com o insustentável desejo de ter

  1. Oi Júlia, tudo bem?
    Conheci seu blog hoje e adorei, parabéns, tudo muito bem escrito e com um conteúdo ótimo! Já add aos meus favoritos e pode ter certeza que estarei sempre por aqui!
    Bom, mas quanto ao post concordo com tudo o que falou, adorei, muito bem escrito e adorei a maneira que vc criou pra tentar fugir um pouco desse desejo enorme de consumir que a cada dia cresce mais e mais!

    http://achadosdabrunna.com.br/

    • Brunna,
      Estou mais satisfeita agora, depois de ler seu comentário. Você que é blogueira sabe o quão gratificante é ouvir elogios de uma leitora, de alguém com olhar sensível e a generosidade necessária para te fazer querer escrever ainda mais, produzir conteúdos ainda melhores! Grata, Brunna! De coração. O elogio à escrita, sobretudo, me deixa muito feliz.
      Sim, venha sempre, será muito bem vinda. Estarei pensando em você, também, a partir de agora.
      Quanto ao post, sim, temos que inventar nossos “jeitinhos” de lidar com essa loucura loucura da apropriação do desejo pelo mercado. Não precisa parar de desejar, nem de comprar, mas podemos, também, escrever e criar a partir disso, fazendo um certo contorno disso. Porque, se ficar o bicho pega, se correr ele come. Então, vamos ficar dando voltas, brincando de pique-esconde. haha.
      Visitei o seu blog e gostei muito. Já tem muito conteúdo e uma dinâmica bem estabelecida, né?! Parabéns!
      Beijos,
      Júlia

      • Oi Júlia! Nossa fiquei super feliz em vir aqui novamente e ver meu comentário respondido, ainda mais com tanto carinho assim!
        Obrigada por ter feito uma visitinha ao meu e fiquuei super feliz em saber que gostou! Um elogio vindo de uma pessoa assim como vocé é também muito importante pra mim!

        beijO!

        • Brunna, que delicadeza a sua!
          Eu que agradeço pela sua nova visita. Vamos frequentar uma a outra!
          Fiquei tocada pelo comentário.
          Beijos!

  2. Adorei essa idéia, Júlia!
    Há tempos tenho me incomodado com essa indústria do desejo. E imagine a louca aqui que ama cores e estampas! Comprava, chegava em casa feliz e descobria que nada combinava… rsrs A partir daí decidi manter as cores, diminuir as estampas e, todas as vezes que comprava algo novo, me desfazia de uma peça que já não usava. Da última vez que fiz isso descobri que não consigo usar sapato preto!!! Me desfiz dos 4 pares encalhados e comprei um sapato vermelho e um verde. Menos objetos, mais estilo! Meu lema!
    Beijos

    • Patty,

      Acho que este é o caminho: cada um tem que inventar um método para poder ter menos objetos (mas objetos preciosos, que durem muito e que sejam versáteis) e um estilo mais bem construído. Ser estiloso não quer dizer consumir desenfreadamente, né?!
      Ah, tadinho dos sapatinhos pretos (amo!). haha. Mas é isso aí: let go.
      Vamos construindo juntas!
      Um beijo, querida!

  3. Júlia, simplesmente incrível! Realmente a moda está sempre ligada a um vir-a-ser, compramos imaginando na questão da satisfação e da completude (que sempre nos escapa) pois somos seres faltosos. E nada melhor do que a moda para nos trazer esta questão de sempre queremos um novo objeto na “ilusão” de ele ser O objeto. Realmente o mundo da moda é “viciante” se formos pensar, mas de uma certa forma,nos traz uma satisfação momentânea, agora, é sabe lhe dar com isto de uma forma mais balanceada. Adorei a idéia da escrita( acho que vou exercitar) e mais uma vez vc está de parabéns ! Bju

    • Thula,

      Que bom que este post foi ao encontro de algumas coisas que você já estava pensando, trabalhando. A moda oferece esses pacotinhos de “esperança”, de “sonho”, de “vaidade”, “luxo”. É atraente, mas é preciso estar atento e forte ao fazer as escolhas, né?! Vale a pena se deliciar (sempre), mas com alguma medida. Para isso, podemos nos valer das letras, que dão uma borda ao infinito. Depois me conta das suas escrevinhanças. Quem sabe você também compartilha alguns de seus textos?!
      Beijos,

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