Já era tempo de trazer Gauguin para pintar este vestido com as cores do que era, para ele, “a grande realidade fundamental”: a (sua) natureza. A relação dele com ela (esta fêmea que é a origem de todo mundo, de todo o mundo, sendo ela o mundo) não foi (apenas) a de um observador deslumbrado. Aos 35 anos – casado, pai de cinco filhos, artista nas horas vagas e frequentador dos círculos de arte de Paris -, tocado pela estética do Simbolismo, Gauguin embarca para sempre em uma viagem.
Por considerar que o estrangeiro se encontrava necessariamente no estrangeiro, Gauguin viveu durante anos em algumas ilhas do Pacífico, convivendo com os nativos e estabelecendo com eles uma relação de admiração. Traçou caminhos tortuosos, penosos. Em meio às agruras, seu olhar esteve atento às delicadezas, às mulheres e seus trejeitos, às suas formas, olhares e sutilezas. Descreveu assim a “Eva Tahitiana”: “muito sutil, muito sábia em sua ingenuidade” e, ao mesmo tempo, “capaz, ainda, de passear nua, sem vergonha”. Gauguin aponta aí para a relação da mulher com seu corpo, para a sensualidade que inclui e vai além do apelo que se faz ao olhar/corpo/desejo do outro.
O quadro Two Tahitian Women parece uma condensação dessa afirmação. Estão ali: os olhares voltados para o fora de campo do quadro, as frutas e flores como adereços para os corpos, os corpos como adereços da natureza, a cor da pele que reflete cores do fundo da pintura, as mãos sutilmente colocadas, os corpos posicionados de modos distintos (remetendo a poses de gregos e egípcios), os vestidos que escorrem e deixam ver os seios… Os vestidos. Pausa. Volto ao vestido, elemento cheio de força neste quadro, elemento que emoldura o sexo. Volto ao vestido, elemento que move esta escrita. Queria, antes de tudo, hoje, escrever sobre um vestido. Queria escrever um vestido e assim, vestir-me de contornos fluidos. Parti em busca de Gauguin pois o vestido, tal como o concebo, engancha o corpo à sua natureza (também a esta de Gauguin). O vestido confere contorno, fluidez e consistência ao corpo, a este corpo hoje tão virtual. Vestido: elemento que escorre, pelos corpos e pelas telas aos quais se mistura. Daí a sensualidade. O vestido é um véu sem fim, do sem fim. Bem, este é o começo. O começo de uma semana dedicada aos vestidos. O começo do fim de um ciclo. Mais, em breve.
Os vestidos acima foram inspirados na obra de Paul Gauguin e fazem parte da coleção de Outono/2012 da grife italiana Dolce Gabbana.
Que delicadeza.
Que suavidade.
A doce arte de vestir, corpos
Se revela na doce e sensual segunda pele da mulher.
Deixa que ela se vista, mas sem perder a sua própria vestimenta, a sua pele real, realidade, natureza.
Adorei.
Mãe,
Comentário especial, precioso. Quero gravá-lo em mim, na minha pele. Quem sabe.
E quero a moda assim, para mim: uma doce arte de vestir a pele real, natureza, natural. Cada vez mais própria.
Eu que adorei!
Obrigada por me vestir de poesia, desde sempre.
Beijos,
Jú
As estampas são maravilhosas e ficam ainda mais lindas a partir do seu texto.
Gostei demais!
Vanessa,
Que comentário lindo, misturando seu olhar, seu apreço, as estampas e as letras.
Obrigada pela leitura e pela escrita no Vestido.
Beijinho,
Júlia
Júlia,
Fico sempre admirada com suas palavras. Elas me fazem ter outro olhar, um olhar mais sensível pra arte que você nos apresenta.
E que os vestidos possam compor nossa pele com toda a sensualidade que temos!
Beijos
Roberta, querida,
Li seu comentário e abri um sorriso. Que bom poder te tocar desta forma. Obrigada pelas palavras.
Sim, que os vertidos velem e revelem algo de cada uma de nós.
Um beijo!
Ju, como essa mistura de natureza, natural e corpo feminino dão uma mistura sensual!! Lindo bjs