Ben-day face

maquiagem_lichtenstein-makeup2

Maquiagem inspirada nas histórias em quadrinhos e em obras de Roy Lichtenstein – por sua vez inspiradas nos comic books. Usa-se os Ben-Day dots – pontinhos espaçados que são um traço caraterístico da obra do artista. Ao encher suas obras desses grãos, Lichtenstein inspirou-se no aspecto estético das versões mais baratas das revistas em quadrinhos impressas à época.

lichtenstein-makeup1-(2)_TRATADO

Maquiagem básica para uma quinta-feira de trabalho.

Roy Lichtenstein está na moda

Lichtenstein está super pop. Em 2013 foi inaugurada a exposição “LICHTENSTEIN: a Retrospective”, a primeira retrospectiva internacional da obra do artista. A exposição foi primeiramente apresentada no país de origem do artista, na National Gallery of Art (Washington, D.C.), em seguida passou pela Tate Modern (Londres) e agora se encontra no Centre George Pompidou (Paris), até 4 de novembro de 2013 (quem tiver a chance de ver, aproveite). Mais de cem (125) obras do artista integram a exposição e revelam fases pouco conhecidas de sua produção.

Nesta fonte bebem outros artistas. A moda permite parcerias bem sucedidas com o(s) estilo(s) Roy. Ao que parece, no entanto, os estilistas sempre se inspiram na Pop Art de Lichtenstein, explorando pouco as outras fases da obra do artista. De todo modo, os efeitos são interessantes, cheios de vida – em meio a temas bélicos.

Primeiramente, TOM FORD com ROY LICHTENSTEIN:

TOMFORD_TRATADO

E mais: na London Fashion Week 2013 apareceram repetidas vezes o contorno bem marcado, as cores, formas e temas explorados por Roy Lichtenstein:

Roy-Lichtenstein-london-fashion-week-02_TRATADO

Roy Lichtenstein, Nude on beach, 1977
Michael Van Der Ham (esquerda, superior) & Osman (direita, inferior)

Roy-Lichtenstein-london-fashion-week-03_TRATADO

Roy Lichtenstein, Meat, 1962
Christopher Kane

Roy-Lichtenstein-london-fashion-week-04_TRATADO

Roy Lichtenstein, Baked potato, 1962
Vivienne Westwood, Red Label

Roy-Lichtenstein-london-fashion-week-05_TRATADO

Roy Lichtenstein, Still life with goldfish, 1974
Fashion East, Claire Barrow

A pintura Nude on beach é incrível! E os peixinhos dourados deste último quadro?

Transposição da tela para o corpo. Ao olhar estas imagens, podemos pensar sobre possíveis métodos para transpor traços de obras que nos fisguem – pelo estilo – para o nosso vestir.

Até mais!

Fonte: http://www.tecnoartenews.com/

Vamos vestir Magritte

magritte-fashion-TRATADO2

Expressar-se artisticamente livre do controle do pensamento. Criar sem se ater a padrões estéticos ou morais. Compor novas formas de modo que o funcionamento do pensamento venha à tona, fazendo ver suas contradições, falta de lógica, bizarrices, seus elementos surreais. Fazer dos sonhos material de trabalho. Produzir uma arte que não seja escrava da racionalidade e dos padrões vigentes.

Estes eram alguns dos princípios do surrealismo, movimento artístico encabeçado pelo poeta, crítico e psiquiatra francês André Breton, na década de 20. Fortemente influenciado pelas inovadoras idéias de Freud – o qual considerava os sonhos a via régia de acesso ao inconsciente -,  o surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa, propõe que o fazer artístico seja realizado em estado de automatismo psíquico – ou associação livre – buscando atingir uma realidade superior, descrita como “maravilhosa” no Manifesto Surrealista de 1924.

O surrealismo foi fortemente influenciado pela psicanálise. Salvador Dali, Luis Buñuel, Max Ernst, Antonin Artaud e outros artistas criavam formas que deixavam ver que a riqueza do pensamento humano, que vai muito além do que costumamos dizer ou mesmo pensar que pensamos. Mas, e se a estética proposta pelos surrealistas invadisse o campo da moda? Como fazer ver o funcionamento inconsciente nas roupas, nas composições, naquilo que adorna o corpo? Como fazer a corpo sonhar? Como sonhar com as roupas estando acordado?

O fotógrafo Andrew Matusik inspirou-se em Magritte e fez um belo ensaio para a Revista Genlux, no inverno de 2008. O resultado é muito interessante, associando a elegância ao Estranho. Ontem, em nosso Look do Dia com Arte, nos inspiramos em uma das fotos deste ensaio. Hoje trago, para vocês, mais fotos do editorial. Afinal, é impossível pensar moda sem sonho e este sonho não precisa, necessariamente, ser o da princesa e seus sapatinhos. Podemos extrair formas mais complexas, únicas, bizarras da dimensão onde realmente somos e nem pensamos.

Observação: atenção para os penteados!

sir_realist_genlux_9_GRANDE_2

sir_realist_genlux_2_GRANDE_3

sir_realist_genlux_5_TRATADO_10

sir_realist_genlux_4_TRATADO_9

sir_realist_genlux_3_TRATADO_8

sir_realist_genlux_8_GRANDE

sir_realist_genlux_10_TRATADO

vestido

Processo de composição. Da inspiração em Magritte à foto do editorial:

magritte-fashion2_TRATADO_5

magritte-fashion-castle_in_the_pyrenees_TRATADO_2

magritte-fashion-la-magie-noire_TRATADO_3 magritte-fashion_TRATADO_4

Preto e branco bombaram no ensaio. Maravilha!

A proposta do Vestido de Letras vai de encontro à deste editorial: se inspirar em fontes interessantes, incluir novas formas em seu modo de se colocar no mundo. O surrealismo é um bom ponto de partida, de abertura.

Espero que tenham gostado. Boa quinta-feira!

Beijos,

Júlia

Look do dia com Arte:
o olhar que se vê

Le Pelerin, René Magritte (1966)

Le Pelerin, René Magritte (1966)

Le Pellerin Fashion; Editorial fotografado por Andrew Matusik para Genlux Magazine

Le Pellerin Fashion, Genlux Magazine

retangular

Como deslocar o comum para fora do comum? Como acessar o Fora? Como olhar o próprio olhar? René Magritte (1898-1967), pintor belga cujas obras têm fortes traços surrealistas e que ficou célebre pelo quadro do cachimbo que não é um cachimbo (ceci n’est pas une pipe), joga com a representação. Inserindo elementos comuns em combinações inesperadas e conjuntos bizarros, destaca que o que está em questão na pintura é, antes de tudo, o olhar. Mas também a escuta. Propõe ao espectador que escute as obras. Para ele, o silêncio é um elemento fundamental na apreciação de uma obra de arte. Assim, a partir de uma certa escuta da obra Le Pelerin (1966) e da releitura desta obra feita pelo fotógrafo Andrew Matusik (para um editorial da revista Genlux Magazine) compusemos estas imagens nas quais o elemento-chave é a máscara. Uma máscara que encarna o olhar e ocupa a função de um duplo. O olhar que pode ver o olhar, pelo menos por instantes. Uma conversa em silêncio. Uma mulher e sua mascarada.

pb2_TRATADO

tons

escada_lateral

olho_no_olho

sentada

escada_tronco

costas

colar

sapatoVestido/Dress: Julia Valle  –  Colar: Mango  –  Sapato: Cavage

Fotografia: Carolina Homem

As peças desta produção são muito especiais. O vestido é o meu favorito absoluto, uma obra da Julia Valle que ganhei com amor. O processo de criação da coleção da qual este vestido faz parte merece um post (farei isto). O colar veio de Portugal. Acho interessante a combinação do brilho com o plástico, uma combinação estranha. O sapato estilo oxford é Cavage, marca que produz modelos diferenciados em cores inusitadas (pena não ser confortável, pelo menos no meu caso).

As obras de Magritte são muito potentes, inspiram várias produções e “dão pano pra manga” para discussões em moda/psicanálise/literatura/filosofia… Por isso, Magritte continuará a nos acompanhar. Já estou preparando um próximo capítulo sobre produções em moda inspiradas em obras do pintor.

Gostaria de agradecer ao Daniel Rabello, querido amigo que enviou esta obra de Magritte, sugerindo que um post fosse criado a partir dela. Valeu!!! Aproveito para dizer que sugestões de obras ou de outros temas que possam inspirar capítulos do Vestido de Letras são muito bem vindas. Vocês podem enviar as sugestões e pedidos para o meu e-mail (juliadesenamachado@gmail.com) ou clicar na opção “contato” do cabeçalho do blog e enviar suas mensagens. Vou achar ótimo!

Beijos,

Júlia

Look do dia com Arte:
aprender sobre o simples com aves

Meschers, Ellsworth Kelly (1951)

Meschers, Ellsworth Kelly (1951)

Do minimalismo sóbrio de Sabrina Meijer, do Afterdrk (leia mais neste post), seguimos para a simplicidade banhada de cores que marca o estilo do pintor, escultor e printmaker contemporâneo Ellsworth Kelly (1923-). Kelly explora, em sua obra, o contraste entre formas evidenciadas por cores vivas. O artista conta que, quando criança, era  convidado por sua avó para praticar birdwatching (que poderia ser poeticamente traduzido como “apreciação de pássaros”). Tal prática teria levado o menino a observar, com os pássaros, as formas da natureza. Daí sua paixão pelos contornos (geométricos e orgânicos) e pelas cores.

corpo_debaixo

Em exposições de arte contemporânea, é comum escutarmos comentários do tipo: “Ah, mas também eu faria isso!”, “Parece trabalho de criança”. Sim, talvez uma obra de arte contemporânea possa parecer excessivamente simples. Mas  quem faria isso ao longo de anos a fio, de uma vida? Quem se permitiria não abandonar os gestos da infância? E mais: o que leva à criação de um quadro como este na década de 50? Qual foi o contexto que propiciou tal criação? Estas questões precisam ser levadas em conta. Afinal, a criação de uma obra de arte é sempre um diálogo. Assim, o exercício contínuo de dar forma e cor à vida – buscando a simplicidade – é admirável. Na criação deste look, quis dialogar com a obra Meschers (1951), transpondo suas cores, formas e referências à natureza para o corpo.

chirando_flor

corpo_maocabelo

mao_cabelo_2

mao_cabelo

rosto_lateral

sapatos

movimento_2

DSC_0079_incluir

DSC_0082_incluir_2

DSC_0083_incluir

DSC_0084_incluir

rindoBlusa: QGuai/Saia: QGuai/Cinto: Complot/Sapatos: Luiza Barcellos

Fotografia: Carolina Homem

A obra que serviu de inspiração para este post – e que retrata, de modo singular, a região francesa Meschers-sur-Gironde – faz parte do acervo do MOMA (Museum of Modern Art, NY). O museu tem um acervo incrível. Super recomendo a visita!

Espero ter colorido um pouco os seus olhos.

Beijos,

Júlia

Look do dia com Arte:
vestir-se de tons noturnos

E se o look do dia fosse o efeito da transposição de uma música para o corpo? Como transpor os sons, a melodia, o tom de uma canção para este outro espaço, de carne e osso? Como deixar o corpo habitar-se pelas notas? A música toca o corpo, as roupas também – em camadas distintas. Como misturá-las? Como se expressar musicalmente, de outro modo? Quando escutei The Operation, da atriz e cantora Charlotte Gainsbourg (Londres, 1971-), veio o desejo de encarar o desafio. Me coloquei diante da canção e assisti o clipe como quem lê/olha/escuta atentamente, catando grãos de vozes, palavras, sons, murmúrios, movimentos, cores, olhares, gestos. Busquei menos o sentido da canção e mais a sua outra letra, a dos grãos – olhares desencontrados, uma delicada voz feminina   sussurrada, a estética noturna, um certo peso na batida. A composição resultante baseia-se numa combinação de tons terrosos e  escuros, de sombras criadas pelas luzes noturnas, de uma certa melancolia que o romance envolve. A batida da música me levou a escolher peças de peso: uma blusa cuja trama escura contrasta com a delicadeza do bordado, uma saia em cor de terra, um cinto com fivela marcante, um sapato cheio de detalhes. Na boca, o vermelho. O corpo misturado à terra, ao asfalto, à noite.

cabelo1

sombras

foco

sapato

rosto

sapatospendurados

metadecorpo Top: Coven/Saia:Espaço Fashio/Sapato: Luiza Barcellos/Cinto: Zara

Fotografia: Carolina Homem

Um abraço e boa semana!

Júlia

Look do dia: deixar-se vestir o beijo

O Beijo, Klint (___)

O Beijo, Gustav Klimt (1907-1908)

Para o dia de hoje, um beijo colorido e delicado. Beijo que se dá com as mínimas partes de possíveis corpos e que transborda deles, derramando no mundo. Beijo que envolve as vestimentas, as formas da natureza. Beijo que beija a natureza, que se infiltra no solo e faz suspirar. Beijo em que os olhares se tocam, para além dos olhos. Beijo que envolve um outro olhar. Beijo com languidez, esmero, toque sutil, desejo de amar . Beijo que cria moldura, que dá consistência aos corpos, mas os faz misturar. Beijo florido, com formas de todas as formas. Beijo que colore as vidas. Beijo fantasiado, desejado. Beijo-presente, presença, pulsante, vivo.

Neste beijo de Gustav Klimt – uma das obras que mais me toca e que eu escolho para estampar vários objetos e locais com os quais convivo -, há um beijo a se buscar. Me inspirei nesta obra para compor algumas imagens. Deixei-me tocar pela obra – pelas cores, pelos gestos que pude captar, pelas formas, por uma certa pulsação -, e busquei criar algumas imagens que dialogassem com o quadro (inclusive através do look!). Tentei transpor o beijo, de Klimt, para o meu corpo, para o espaço onde me encontro.

lateralflor

corpotodosentada

lookcompleto

coque

Lanço, assim, mais uma nova Tag do blog. Além do Look do Dia da Pintura, teremos o Look do Dia com Arte. Criaremos a produção partir de pinturas, esculturas, filmes, músicas, obras arquitetônicas, peças teatrais, obras literárias… Compondo com o corpo e nos inundando de olhares, em um gesto de deixar-se beijar – também pelas obras, por esses olhares. Assim, assume-se a posição feminina – do deixar-se beijar -, tão bem retratada por Klimt.

jardim

ceu

bolsaflores

Blusa: Luisa Accorsi/Calça: Coven/Bolsa: vintage/Colar: Mary Design/Sapato: Arezzo 

Fotografia: Carolina Homem

Feliz dia, com beijo.