Por um fardo mais leve

Cooking cristals, Tunga (2006-2009)

Cooking cristals, Tunga (2006-2009)

O ponto mais rico de um blog é seu caráter de experimentação e fato de abrir um espaço para a livre criação. Aqui, podemos colocar as letras que desejarmos, tratarmos dos assuntos que nos interessarem, sem termos que seguir um script ou uma fórmula – mesmo porque o nosso objetivo não é descobrir a fórmula do sucesso, e sim, valorizar os traços singulares de cada sujeito, de cada obra. O blog tem tido efeitos interessantes em minha vida, em meu modo de pensar. Algumas idéias vão se transformando, recolocando, sumindo e aparecendo de outros modos e em outros lugares. A princípio, a idéia era publicar  apenas assuntos claramente relacionados a moda e a arte. No entanto, com o tempo percebo que uma diversidade de assuntos relacionam-se a estes temas. Cada vez mais encaro a moda como um pensamento e como uma forma de expressão pela forma. Penso a moda menos como uma fórmula e mais como uma experimentação. Menos como consumo e mais como criatividade. Menos cópia e mais inspiração. A moda está ligada a vários outros campos e atividades, articulada a diversos outros aspectos do “inventar um mundo dentro do mundo”. Se pensarmos em estilo, então, aí que as linhas e conexões se ampliam.

Moda e estilo envolvem uma reflexão sobre o sujeito, sobre a singularidade, sobre escolhas. Como tornar o fardo de ter que fazer escolhas mais leve? Nesse sentido, trago hoje, para vocês, um texto da nova colaboradora do Vestido de Letras, Cecília Lana. Cecília é jornalista, estudante de psicologia e psicanalista em formação. Fã de profissionais que transitam por diferentes campos de saberes, entre a psicanálise, a literatura e as colunas de jornal. Tem um modo de se vestir e de se expressar únicos e anda sempre inventando umas modas por aí, dando nó em pingo d’água. Bem vinda, querida Cecília!

————————————————————–

por um fardo mais leve

cecilia-mini2 Cecília Lana

Nos últimos anos, fiz as pazes com minha escolha profissional. Não definitivamente, é claro, porque aprendi que essa certeza é impossível. Mas pelo menos por enquanto. A verdade sobre uma escolha profissional é que ela é sempre provisória, que pode ser reorientada a qualquer momento da vida, que é matéria de eterna construção. Isso porque, primeiro, a escolha muda acompanhando as mudanças de direção de nossos desejos (que, inclusive, nem sempre são facilmente identificados por nós). E, segundo, porque existem diferentes vias de acesso àquilo que desejamos.

Mudanças

Me formei em Comunicação Social e trabalhei como jornalista por dois anos, ao mesmo tempo em que prestava vestibular para Psicologia e começava a cursar os primeiros períodos dessa graduação. Passei parte da faculdade de jornalismo namorando a psicologia e a psicanálise e, agora, estudo Psicologia flertando com o jornalismo. Ironia do destino ou não, o fato é que hoje trabalho em um cursinho pré vestibular, orientando jovens no momento da escolha profissional.

Pacote fechado?

O que procuro fazer por esses adolescentes que chegam ansiosos e angustiados à sala da psicologia é mostrar a natureza complexa disso que chamamos “escolha profissional” e que, ilusoriamente, é vendido por aí como sinônimo de “marque o X na opção de curso superior desejada”. Achar que o pacote vem pronto, esse é o grande engano. Um engano que traz mais sofrimento do que a própria escolha profissional já exige. Porque é dessa concepção de pacote fechado que nascem os dilemas que escuto todos os dias no pré vestibular: “como vou saber aos 17 anos o que farei pelo resto da minha vida?”; “e se eu não tenho todas as habilidades necessárias para o exercício da profissão que eu escolher?”; “e se eu me formar e depois não gostar da profissão na prática?”; “e se eu me cansar da profissão depois de alguns anos?”; “e se eu não encontrar lugar para atuar no mercado de trabalho?”.

Considerações

Algumas considerações que podem ajudar a responder às perguntas acima:

1- Como eu já disse anteriormente, escolher a profissão não é escolher o que você fará pelo resto da vida. Isso porque…

2- Sempre é possível recalcular a rota e, além disso, não há uma única prática profissional para cada tipo de carreira; existem práticas inúmeras, reinventadas cotidianamente por profissionais guiados por suas paixões.

3- Não existe um conjunto perfeito de habilidades essenciais para realizar determinado trabalho. Pelo contrário, a maneira de ser profissional é construção de cada um. Cada pessoa tem seu estilo de exercer a profissão e é justamente aí que está a riqueza! (Essa consideração é bem importante porque carrega no fundo o argumento de que não existe vocação, isto é, de que não existe uma profissão “certa” para alguém).

4- O mercado é um ponto interessante. À primeira vista, parece um critério bem objetivo de escolha: dificilmente alguém ficará desempregado como engenheiro ou médico e raramente alguém poderá enriquecer sendo pedagogo, certo? Mas não seria muito arriscado, em se tratando de uma escolha tão importante como a profissional, confiar nas estatísticas, colocar tudo nas mãos de um critério que é externo a nós, sob o qual não temos controle? Conheci muitos engenheiros que passaram parte das décadas de 1980 e 1990 desempregados. Trabalhei com pedagogos que ganham dinheiro lecionando na rede pública, realizando pesquisas em instituições de ensino superior e trabalhando com políticas públicas na área da educação. E não vou nem entrar aqui no mérito de que há de se questionar qual é o significado e o peso do “enriquecimento” no projeto de vida de cada um.

Projeto de vida

Parêntese. Quando falo em projeto de vida, estou me referindo a uma noção mais ou menos estruturada (na maioria das vezes até fugidia) daqueles elementos, objetos, pessoas e sentimentos que queremos que façam parte de nossa vida, que estejam próximos de nós de maneira permanente. Por exemplo: posso fazer uma ideia de que quero que a literatura esteja presente em minha vida de forma determinante, pois, sempre que estou na presença do objeto livro, sinto, mesmo que por um cintilar de segundo, que estou na direção certa: direção de meu desejo. Mas o que vou fazer com esse sentimento e como ele vai configurar minha escolha profissional varia: posso me tornar professora, bibliotecária, pesquisadora, escritora, jornalista, consumidora compulsiva de livros. Fecha parêntese.

Bifurcações

Hoje, penso nos colegas formados em comunicação e vejo que seguiram os mais diferentes caminhos profissionais: críticos de cinema, produtores culturais, publicitários, pesquisadores, jornalistas, assessores. Ok, até aí entendo que se trata de uma diversidade própria do campo da comunicação que não ajuda muito a fortalecer meu argumento de que o bom mesmo é sermos guiados por um projeto de vida, maior, dentro do qual a profissão deve se encaixar.

Mas posso falar daqueles colegas que, depois de graduados, iniciaram outros cursos, tornaram-se atores, chefes de cozinha, comerciantes, economistas – e que sempre exercerão suas profissões de uma forma um pouquinho diferente por terem se formado comunicadores. Posso falar também daqueles que conseguiram trabalhar com a comunicação de maneira, digamos, mais “convencional”, como jornalistas e repórteres, e que, ainda assim, fincaram os pés em outras áreas: pós graduação na área da política, mestrado em literatura, aulas de línguas, tradução de textos. E eles o fazem guiados tanto por paixões quanto por necessidades financeiras, buscando equilibrar a balança entre o mercado e o desejo.

Escolha profissional ≠ Curso superior

Penso nisso tudo e me sinto livre para ir montando essa equação de forma meio intuitiva e passional, escolhendo os caminhos que me acenam com vida. Bom, para mim, para os jovens que recebem orientação no cursinho e (espero) para a maioria das pessoas, entender a escolha profissional dissociada da ideia da escolha do curso superior e mais próxima da noção de um “projeto de vida” é muito apaziguador.

Mas, para fazer isso, é preciso ceder à dura verdade de que uma parcela de tudo na vida é mesmo aposta. E soltar o corpo!

—————————————————

Espero que o texto possa inspirar vocês a desenharem e costurarem seus projetos de vida a partir do estilo único de cada um, um ponto após o outro.

Beijos,

Júlia

Observação: o texto “por um fardo mais leve” foi originalmente publicado na Revista Enter, uma revista online cuja leitura também indico. Para acessar, basta clicar aqui.

Voando e traçando rumos

ModaCamp

Na última quinta-feira (06/06), voei para São Paulo para apresentar a proposta do The Written Style no ModaCamp 2013. O evento, que teve como tema “Criação, Estilo, Comunicação e Negócios na indústria fashion”, reuniu, nos dias 05 e 06 deste mês, estilistas, designers, jornalistas, blogueiros, empresários, executivos e outras figuras cujos interesses e ofícios são ligados à moda, para compartilhar ideias e experiências. O evento aconteceu no IED (Instituto Europeo di Design), uma rede educacional internacional que oferece cursos nas áreas de moda, design e comunicação visual. Aliás, para quem está buscando alguma formação em moda, o IED é uma opção interessante. O Instituto (infelimente) só tem sedes em São Paulo e Rio de Janeiro, mas oferece cursos de extensão e de férias (!).

ModaCamp_visaogeral_2

MocaCamp_visaogeral_1

ModaCamp_plateia_1

ModaCamp_plateia_2

A participação no evento foi uma surpresa para mim e aconteceu como um relâmpago. Estive lá no segundo e último dia do evento. Na semana anterior, uma amiga me disse que havia visto no site Petiscos uma chamada para inscrições no Painel de idéias para conteúdos online sobre moda do ModaCamp 2013. Os selecionados para o Painel apresentariam seus projetos para uma banca composta por especialistas e receberiam conselhos (uma espécie de consultoria) com vistas a potencializar seus projetos. Felizmente, a proposta do The Written Style foi aprovada (dentre dezenas de outras propostas) e lá fomos nós! Junto a dois outros grupos de blogueiros e administradores de sites, apresentei o conceito do blog para uma banca – composta por Deborah Bresser, editora executiva do site Petiscos; Edgard Pitta de Almeida, consultor de mídias sociais e co-fundador do site Fashion Bubbles;  Maria Rita Spina Bueno, diretora de operações da Anjos do Brasil; e Déborah Lopes, publisher do Tempo de Moda – e para a platéia. Após a apresentação, cada um dos integrantes da banca falou de suas impressões sobre o projeto, fez uma leitura crítica e deu sugestões. Foi uma experiência muito rica. Além de passar por esse “exame” (nada fácil, ainda mais para mim, que venho de outra área) e contar com essa consultoria, pude conhecer outros projetos, pescar idéias, clarear algumas questões e sentir que de fato o que me chama é a poesia, a criação, a invenção, a expressão da singularidade, a busca da construção do estilo. Na viagem de volta, passei um tempo bom com a Lú Ferreira, do Chata de Galocha, e, mais uma vez, tirei muitas dúvidas e troquei muitas idéias. Ela investe no blog dela (que eu admiro e visito) desde 2007 e teve a generosidade de responder a várias perguntas minhas. Uma querida.

Constanza Pascolato também estava na platéia. Ela foi a homenageada do evento.

Constanza Pascolato também estava na platéia. Ela foi a homenageada do evento.

Lú Ferreira, do Chata de Galocha, deu uma palestra sobre blogs e a nova geração de leitores e consumidores no campo da moda.

Lú Ferreira, do Chata de Galocha, deu uma palestra sobre blogs e a nova geração de leitores e consumidores.

ModaCamp_projeto

Trocando idéias com a Débora, do Tempo de Moda.

Trocando idéias com a Débora, do Tempo de Moda.

ModaCamp_eu_2

Fiquei pensando muitas coisas a partir desta experiência. Certamente esses pensamentos irão se refletir aqui no blog. Novidades a vista!

Agradeço aos representantes do IED e especialmente ao Ricardo Perucchi pelo acolhimento no ModaCamp 2013. Vida longa ao evento!

Vamo que vamo! Boa semana para nós!