Look do Dia com Arte:
cores e letras de Frida Kahlo

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O corpo se compõe de laços de fita, sonhos e memórias felizes, brincadeiras de boneca, passeios de mãos dadas, danças rodopios e vestido rodado. Se acaricia com delícias e guarda o “para sempre” da infância. Mas o corpo também se faz de dor, desconforto, estranheza e limitações (#quem nunca?). O corpo é estranho e estrangeiro, fala uma língua que exige tradutores. Temos que inventar – cada um de um modo – modas com/para nossos corpos. Precisamos costurar vestidos e moldar contornos para o corpo, para diluir o amargor que, em cada vida, tem fórmula, densidade e gosto singulares.

Alguns encarnam o sofrimento de forma mais intensa e, assim, encaram mais de perto os impasses que um corpo pode colocar. Seja por obra do destino ou do desejo, um sujeito pode ter que “dar nó em pingo d’água” para criar seus laços de fita. E é daí que surgem invenções de moda incríveis, inesperadas, potentes. A beleza viva brota do extremo. Frida Kahlo – a artista mexicana de traços fortes e olhar marcante que estampa o retrato acima – conseguiu, através de seu gesto artístico e de suas cores, transformar seu amargor em flor, oferecendo ao mundo um universo de cores e letras intensas e extremamente femininas. Uma bruta flor do amor.

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Frida Kahlo parece pintar com cores que escorrem de seu pulso. O corpo aparece com toda força nas obras da artista cuja vida foi marcada por impasses: contraiu poliomielite aos seis anos de idade, ficou em cima de uma cama por nove meses e ficou com sequelas. Aos dezoito anos foi vítima de um grave acidente em que o ônibus no qual se encontrava colidiu com um carro. As sequelas desse acidente foram ainda mais graves. Ela passou a ter dores fortes e constantes e, de tempos em tempos, fazia tratamentos em que precisava permanecer imobilizada. Mas, justamente diante do imperativo de “parar”, ela deu (como pôde) um “pulo” de vida na vida e lindamente fez jorrar suas cores e dores no mundo.

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Como no dia 06 de julho comemoramos o aniverário de Frida Kahlo – uma artista cuja obra me toca desde cedo (contarei o porquê no próximo post), resolvi fazer uma semana temática. Todos os looks desta semana serão inspirados na figura e na obra de Frida. Ah! Nesta semana teremos três looks! O de hoje foi inspirado na foto que abre o post. O olhar de Frida é, ao meu ver, o núcleo e o coração da foto. Em torno desse olhar, adereços coloridos e jóias em prata. Adepta da tendência étnica (que está super em alta!), a estilosa Frida gostava de se enfeitar com elementos que remetiam à cultura e às tradições de seu país natal: México.

Para compor o meu look com Frida, parti das cores fortes de sua blusa e do laço de fita que enfeita seu cabelo. Azul e rosa choque são cores marcantes que formam uma combinação viva-contraste. Na blusa de Frida catei a flor, que foi a “chave” do ensaio fotográfico. Escolhi uma calça (que adoro) com estampa étnica, fazendo uma referência à cultura indígena. Dobrei a barra da calça porque acho que fica mais charmoso e alonga as pernas (sou mignon). A blusa com laço remete ao adereço que enfeita a trança da pintora. O sapato  que escolhi tem um toque artesanal (nas cordas). Se “viajarmos na maionese” podemos ver que o cinto remete às pirâmides mexicanas (#forçando a barra com Frida Kahlo. haha). Quanto à bolsa, achei que ela dava um toque mais moderno ao look que, no fim das contas, ficou bem atual. Concordam?

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verde

bolsa

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corpo_todo

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sapato

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detalhe_meio

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pose

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flor_4 Blusa: Luisa Accorsi (recomendo!)/Calça: Pop Up Store/Cinto: Zara/Sapato: Arezzo/Bolsa: comprada em viagem

Fotografia: Carolina Homem

Aproveito para indicar a leitura de O Diário de Frida Kahlo: um auto-retrato íntimo. É um livro-exposição que traz os escritos de Frida entremeados aos seus desenhos. É de uma beleza e de uma intensidade fora do comum. Uma obra de arte. Vale a pena procurar.

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Espero que tenham gostado deste retalho do nosso Vestido de Letras.

Aguardem! Vem mais por aí!

Aproveito para agradecer pelos comentários que vocês têm deixado aqui, costurando nosso vestido com as cores de suas letras. Fico muito satisfeita ao ler cada mensagem.

Beijos,

Júlia

Look do Dia com Arte:
o laço

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Foi graças a essas mesmas obras que nos inspiraram ontem a compor nossas cerejas-pompons (ver post), que fui atrás de um laço de fita. Veio como um impulso e um desejo. Na busca pelo objeto em causa, encontrei um laço cor de rosa com penas, que condensava os dois laços das meninas retratadas nas pinturas de Luks. O ato de vestir o laço e me ver enfeitada fez disparar a fantasia, que transpôs meu corpo para um universo que nem sei bem colocar em palavras (mas que tentamos representar nas imagens): infância, cor, natureza, Alice, música, dança, balé, suavidade, leveza, flores, paz. É impressionante como um objeto que encobre o corpo pode disparar memórias, materializar sonhos e fantasias. Incorporei o laço e todas cenas se materializaram a partir disso. É curiosa a relação entre os ornamentos, a roupa, o corpo e os efeitos simbólicos e imaginários produzidos pela combinação desses elementos, que incidem no real do corpo.

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passarinha

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sapatos

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 Tricot: Zara/Saia: Vintage/Laço: Accessorize/Sapato: Lalizhilv/ Acessórios: acervo

Fotografia: Carolina Homem

Girl with Pink Ribbon, George Benjamin Luks

Girl with Pink Ribbon, George Benjamin Luks (1867-1933)

Girl with Pink Ribbon, George Benjamin Lucks (1867-1933)

Girl with Pink Ribbon, George Benjamin Luks (1867-1933)

Espero que tenham gostado das fotos e deste capítulo do Vestido de Letras. O processo foi delicioso e divertido! A proposta é criar com o que se veste, experimentar novos lugares no mundo a partir das composições criadas e do que elas disparam.

O processo de compor estas cenas trouxe suavidade para a minha semana. Espero que traga para a de vocês também.

Beijos,

Júlia