Preto no branco: o grão que compõe a pérola

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Minha primeira lembrança clara de um pensamento ligado à moda é a seguinte: de manhã, bem cedinho, a caminho da escola, avisto, através da janela do carro, a loja onde se encontravam as mais lindas roupas de crianças – era o que minha mãe e minha irmã sempre me diziam, atiçando meu desejo. Eu era, então, uma menina de sete anos em busca de signos da feminilidade. Naquele dia, lutando contra a rapidez do carro, consegui alcançar com os olhos a vitrine, na qual estavam expostas roupas apenas em preto e branco. Preto e branco e nenhuma cor a mais. Preto e branco e ponto. E pronto: me apaixonei por aquela imagem e, acompanhada pela crença na eternidade que as crianças geralmente carregam, pensei: “eu podia vestir só de preto e branco para sempre”.

Aquela imagem marcou meu gosto e esse pensamento nunca me abandonou – mesmo tendo de reconhecer o aspecto finito de tudo que é vivo. Hoje, o preto e o branco são a base do tabuleiro que orienta as sequências das escolhas que faço ao criar minhas produções. Considero que as combinações de peças nessas cores têm, de saída, potencial para a elegância e para a sofisticação. Mas, ao contrário do que se poderia pensar, não considero ser tarefa fácil montar um look em preto e branco. É preciso trabalho para atingir a simplicidade, para se livrar dos excessos e dar destaque ao mínimo, ao grão a partir do qual a pérola se forma.

No que tange a questão da língua, a sabedoria popular brasileira aponta que “preto no branco” diz respeito a franqueza, a um acesso direto à verdade – sem firulas ou excessos. Por outro lado, no que diz respeito à escrita, ter um material preto e outro branco permite ao sujeito fazer sua inscrição, deixar marcas simbólicas pelo mundo. Compondo em preto e branco, um sujeito escreve suas verdades – muitas vezes ilegíveis.

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Blusa: Asos/Saia: Asos/Sapatos: Arezzo/Cinto: Luigi Bertolli/Bolsa: comprada na Itália

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Fotografia: Pedro Aspahan

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Boa semana!

Beijos,

Júlia