Dia do trabalha(dor)

Feriado bom para nos sentirmos menos atrasados em relação a tudo: aos textos a serem lidos, aos textos a serem escritos, às palavras a serem trocadas, às questões a serem pensadas, às tarefas domésticas penduradas, ao devaneio que fica só pulsando em meio ao batidão do dia-a-dia. Sinto que hoje é um parênteses, um suspiro – não tem cara nem de quarta, nem de sexta, nem de sábado, nem de domingo… Bom pra nos colocar em suspenso, em pleno dia do trabalhador.

E já que é dia do trabalhador, divido aqui algo que descobri há pouco tempo sobre a palavra “trabalho“. Tenho pensado muito sobre ela, sobre o que significa trabalhar e como se dá a escolha (em cada caso, para cada sujeito) de um trabalho. Apesar de toda a pressão do mercado, corre por aí a idéia de que deve-se escolher um trabalho que seja prazeroso, que traga, a quem trabalha, alegrias, realização. Fala-se até em descansar trabalhando. A idéia do #Ilovemyjob faz crer que é possível trabalhar amando, vibrando, constantemente. Será?

A palavra trabalho, em suas origens, não tem a ver com prazer, mas com tortura. Buscando pela etimologia da palavra, descobri que seu significado remonta à origem latina tripalium, que significa “três paus”.  O  tripalium era um instrumento utilizado para subjugar os animais e forçar os escravos a aumentar a produção. Trata-se de um mecanismo/instrumento de tortura. Vão-se os objetos, ficam as palavras. Por volta do séc. XII, o termo já tinha ingressado nas línguas românicas – traball, traballo e trabalho (Port.); travail (Fr.); trebajo, trabajo (Esp.); travaglio (It.). Na França rural, até hoje, travail serve, também, para designar uma variante do tripalium que na atualidade assume a forma de uma estrutura de madeira destinada a imobilizar o cavalo para trocar ferraduras ou efetuar pequenas intervenções cirúrgicas. Ou seja, a palavra trabalho remete a tormento, agonia, sofrimento. A origem de um nome não é pouca coisa. Talvez o significado original da palavra sempre ecoe nos usos posteriores. Mas, daí, nos perguntamos: dá pra amar o trabalho? Como construir um modo de trabalho possível e que não seja agonizante, atormentador, sofrido, torturante?

Mas, já que o dia do trabalhador é dia de descanso, dá para ficar relax e filosofar sobre a questão. Nesse clima brando (sem torturas), trago, então, um fragmento do dia de hoje: a delícia do prato do almoço.

almoço

0 thoughts on “Dia do trabalha(dor)

  1. Obs1: você ficou parecendo uma princesa nesta foto. De coroa e tudo. Lindeza!
    Obs2: adorei sua concepção de feriado. 2, 3, ( ), 5, etc.
    Obs3: Também quero dessa comidinha gostosa! Não sabia que você estava se aventurando pelo mundo da gastronomia!

    Nestes últimos tempos tenho estudado Gestão de pessoas. Está super na moda os conceitos de Job enrichment, empowerment, universidade corporativa, Organizações de aprendizagem, etc. As pessoas são chamadas de capital humano e diz-se que são o único capital da empresa que se valoriza com o tempo. A gente sabe que isso aconteceu, não porque as pessoas decidiram que queriam ser felizes e as empresas são boazinhas. Mas porque o modelo de escravidão, ou mesmo o modelo fordista, não traz uma vantagem competitiva que seja sustentável. Pelo menos essa é a realidade das empresas nas quais a criatividade e a inovação é o mais importante. Além disso, depois de muito tentar outros meios, eles descobriram que trabalhador feliz, produz mais. E o mais engraçado é estudar isso a partir da Gestão de pessoas, que é a visão do empresário. Meio assustador.. rsrs….
    A partir da evolução de algumas teorias, como a da motivação, fica claro que “os caras” da administração tentaram de tudo antes de chegar a conclusão que os empregados tinham de ser minimamente felizes, e que esta felicidade tinha que estar NA ATIVIDADE DO TRABALHO!
    Depois veja que interessante a “experiência de Hawthorne”: experiência feita numa fabrica para provar a relação “iluminação x desempenho do trabalhador”, que acaba por provar que a produção se relacionava, na verdade, com a integração social do trabalhador (era super novidade na época – 1920-30! Rsrs…).
    As empresas continuam bolando mil estratégias mais ou menos disfarçadas para manipular as pessoas e a fazerem produzir mais e melhor. Uma empresa não vive sem lucro, longe de mim achar que todos os empresários são malvados – apesar de eu estar correndo do ambiente corporativo! Rsrsr… Sou uma otimista e acho que, por bem ou por mal, o mundo está aos poucos melhorando.
    Hoje nós mulheres temos o privilégio da escolha. Há um século isso não era possível. E não me venham com essa de agora “acumulamos funções”, porque o preço dessa liberdade eu pago com alegria! : )
    Tanta escolha causa angustia e questionamentos. E quando está tudo certo, quando não há questões ligadas às condições de trabalho? Vich… aí adentramos em outro mundo! O do desejo. Invejo demais essas pessoas super-felizes-sem-questões com o trabalho. Mas também não é o meu caso. O legal é a gente não desistir de buscar, né!? Nossa, falei demais! Isso é papo interminável pra muitos cafés! Beijocas, amada!

    • Nossa, Carolinda, pirei quando li seu comentário! É legal demais isso, do blog nos dar este espaço e você entrar desse modo tão investido, participante, engajado… Um modo que me parece tão seu, atenta que é aos detalhes desta vida. Achei o seu texto incrível! Você tá super por dentro do assunto! Aprendi muito.
      Texto precioso, reflexão importante. Aprendi porque não tenho conhecimento do modo como os “gestores”, os empresários pensam/agem/planejam. Sempre foi um universo distante para mim, mas que sempre me pareceu interessante e curioso. Mas confesso que tenho uma tendência a pensar que as empresas sempre querem explorar os funcionários… Mas sei que não é bem assim. Pensamento reducionista o meu.
      É engraçado existir todo esse trajeto escravidão-fordismo-modelo motivacional/interativo… Acho que revela como o trabalho é pensado como meio de produção a partir da noção do que é “público”, destacado do que seria a vida “privada” e a individualidade do sujeito. Tipo assim: trabalha, produz e nas horas vagas vive a sua vida. Como você bem destacou, isso não funciona. As mina e os mino piram! Tomara que a “gestão de pessoas” possa gerar melhores condições de trabalho. Mas, junto disso, as pessoas precisam refletir sobre suas escolhas, o desejo, que você apontou…
      E, sim, comemoremos que podemos refletir sobre essas angustiantes escolhas! Vamo que vamo… Rebolando, cantando, ralando e seguindo as nossas canções.
      Confesso que também tenho inveja branca dos que vivem a vida com menos questões. Quem sabe vou ser assim quando crescer?

      Ah, quanto às “obs”:
      1) Querida!
      2) Os () são os melhores… Argentina era ( ) + ( ) + ( )… Lembra?! Saudade!
      3) Só cozinho o básico. Adoro aprender a fazer coisas simples e saudáveis. Faço pra vc com prazer!

      beijinhos e continue assim, inspirada e inspirando!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *