Da tela que abriga a pintura para o espaço do Museu do Inhotim, vamos ao encontro de uma obra instigante e penetrável: Invenção da cor, Penetrável Magic Square #5, do (anti)artista carioca Hélio Oiticica (1937-1980). O labirindo colorido, incrustado na paisagem e a ela misturado, é um convite ao corpo. “Venha”, escuto. E vou. Com o corpo em movimento, vários sentidos são convocados pela ativa participação na obra: o olhar, o tato, a audição… a percepção, enfim. A cada quina, uma outra perspectiva, outras sensações, outra composição formada pelas misturas de paredes, cores, frestas, materiais. O olhar ali são vários… em mutação. O chão é de pedras e produz sons que variam de acordo com a movimentação de cada corpo e a ação variável do vento. O corpo se mistura à paisagem e torna-se parte da obra. Sorrisos vêm a tona. A cor ganha corpo, o corpo ganha cor. Trago as bolinhas (pois), que tanto adoro, para esta brincadeira. Gosto do modo como os pequenos círculos (em vermelho e branco) da estampa da blusa se destacam das linhas de Oiticica. O preto – cor base da produção – impede que eu me funda completamente ao magic square. A bolsa não é tão lúdica pois o dia era, também, de trabalho. Nos pés, o corforto dos clássicos, que, neste dia, tocaram o contemporâneo.
Blusa: Kinca/Shorts: Luisa Accorsi/Bolsa: Lenny e Cia/Sapatos: Arezzo
Fotografia: Pedro Aspahan
Esta obra de Oiticica estabelece relação tanto com a arquitetura quanto com a natureza. Acho isso incrível e potente!
Recomendo fortemente uma visita ao Inhotim. O museu possui um acervo de cerca de 500 obras, com foco na arte contemporânea. Os jardins do museu – onde se encontram muitas das obras – são preciosos. O Inhotim localizado bem pertinho de Belo Horizonte, em Brumadinho. O endereço: Rua B, 20, Inhotim Brumadinho – MG, 35460-000, Brasil, Tel: +55 31 3571-9700.
E, pegando o embalo, uma pequena digressão: Hélio Oiticica era militante da causa gay. Já que estamos falando de cores e beleza – mas em tempos de fortalecimento de ideais da direita e da disseminação de discursos totalitários e repressores – coloco-me aqui a favor da liberdade de expressão sexual e da manifestação da diversidade de gênero para todos os sujeitos. Este discurso de que homossexualidade é doença soa como uma defesa contra a feminilidade com a qual todos nós – falantes – temos que lidar. Se é pra lidar com isso, melhor que seja com cores, flores, letras.
Beijos e até logo!
Júlia
Tão belo e tão bela! Pura poesia!
Bela Mai, gracias!
Nós fazemos poesia na vida.
Um beijo!
PS: adoro vir aqui e encontrar um comentário seu.
Ju, li vários posts agora e algo me chama particular atenção. Você anda na cidade como uma turista, como que de passagem. Quero dizer, seu olhar ‘e estrangeiro. Se deixa surpreender e me convoca a perceber o inusitado, em lugares que achei que já conhecia. Lindas fotos!
Ju,
Seu comentário me tocou tanto que estou pensando nele há três dias.
Tenho pensado muito sobre meu sentimento de estrangeira na cidade. Sinto isso desde os 10/11 anos. Forte. Antes eu achava que tinha que me mudar daqui. São Paulo, Rio, Curitiba, Paris, Buenos Aires… Viajava nessa idéia. Hoje penso que este olhar estrangeiro pode favorecer a estada aqui, em estado de “entre”. Estou me assumindo na greta.
Você tem uma sensibilidade fora do comum. Já te disse isso?
Beijos!