Convite: lançamento

Hoje é dia de lançamento. Você que lê está convidado a lançar-se comigo. Não precisa pensar qual roupa é mais apropriada; não se trata do lançamento de uma nova coleção outono/inverno ou primavera/verão da grife dos olhos. Mas, já que falei em estações, sugiro que, para o nosso lançamento, tomemos alguns elementos da natureza para trazermos conosco. Peguemos: da primavera as flores, seus cheiros e cores, o sentido de renascer (quanto às flores, lírios são a minha primeira escolha… mas faça também a sua). Cabem todas as flores possíveis, uma a uma. Disponha-nas nos lugares em que quiser, da forma que te parecer significativa e bela. Se quiser, coloque-as no corpo.

E, agora, busquemos mais elementos para a nossa empreitada conjunta. Do verão, a luz, o calor que enchama o corpo, o ânimo para a exploração de novos lugares, de novas relações, a abertura para amores cintilantes, a orientação do corpo pelos litorais. Beira (a)mar. Do inverno: o aconchego, a menos-pressa, o cuidado com o corpo, a alquimia da cozinha, um certo silêncio para a leitura e a escrita.

Te convido: venha comigo, o lançamento é nosso. O lançamento que aqui, agora, se dá, não é de uma idéia, de uma proposta ou de uma empreitada. Não lançarei o que venho guardando, não tenho verdades para contar. A proposta é de um movimento: lançar-se, junto. Comecemos de mãos dadas e corações pulsantes. Há, neste lançamento, uma esperança: de que algo novo possa aparecer no corpo, nos fazendo sentir em constante viagem, em lugares diferentes do usual, num movimento que faz emergir um estilo singular, através da  invenção de moda e do gesto de compartilhar descobertas e invenções.

Lançar-se para onde? Para um lugar de abertura: este espaço. Inaugura-se, aqui, através do nosso próprio lançamento, um espaço onde deixarei, num diálogo com você (leitora/leitor; atora/ator; escritora/escritor; amiga/amigo; curiosa/curioso) traços, idéias, pensamentos, sentimentos, fotos, dicas, propostas, perguntas, contradições, afetos, tudo o que puder ser expresso, que precisar ou desejar se abrir, ou tudo o que vier do lançamento de nós mesmos (ou disso que temos a impressão de que somos) neste espaço (blog) acolhedor de possibilidades. Adianto que meu coração pulsa pelas letras, pelas palavras, pelos sons, pelas histórias e seus detalhes mínimos, pelas imagens e seus detalhes mínimos, pela moda e suas infinitas possibilidades. Meu coração pulsa pelas marcas que os sujeitos deixam, cada um do seu jeito, pelo que se destaca nas gretas, em cada cantinho do corpo, do espaço, do papel, da memória, das fotos, dos looks, das composições bem cuidadas… pelos traços discretos, pelas escolhas únicas. Meu coração pulsa pela possibilidade de cada um inventar sua assinatura, de encontrar seu estilo, inspirar-se no outro, com o outro, mas expirar algo único, próprio. Admiro as pessoas que descobrem o caminho de seu desejo e deixam isso transparecer. Admiro. Pois há que se sustentar ao se lançar.

O primeiro efeito de nosso lançamento (sim, porque, ao ler este texto, você já se lançou), são estas letras e o que delas reverbera. Sempre precisei de espaços onde as letras pudessem ganhar forma e onde eu pudesse tentar escrever e, assim, ler algo de mim que vem de não sei onde. Eu queria poder me ver, me escutar, me ler. Para isso, preciso, muitas vezes, de um suporte – o papel, o olhar do outro, a escuta do outro, a arte… o que reverbera. Ao longo da vida, escolhi muitos lugares para escrever e ler minhas letras: um quadrinho escondido dentro do armário, um diário (dezenas de diários), agendas, fichários, cartas e mais cartas, gessos imobilizantes dos braços quebrados de colegas, madeiras de carteiras, borrachas, livros, textos, documentos deixados sobre a mesa, paredes, guardanapos, corpos. Ah, os corpos! Fui tomando um gosto enorme por tentar ler corpos (tarefa difícil) e por escrever no corpo. Como? Escrever no corpo? Escrever com o corpo? Escrever um corpo? Sim, escrever no corpo, com o corpo e escrever um corpo. Parece estranho, mas penso que nosso corpo não está pronto, escrito, ele é uma obra em constante mutação/construção/invenção/deslocamento. Escrevemos uma redação, um poema e escrevemos nosso estar no mundo, nossa presença com o/no/do corpo. Imprimimos gestos únicos no espaço, escolhemos a forma como nos vestimos, isto é, como enfeitamos (ou não) nossos corpos, definimos um lugar para ele estar no trabalho, no descanso, na ginástica, no dormir… dançamos, cantamos, amamos… E ele ainda age de muitos modos que nem nos damos conta. Ele mostra o que não vemos. Ele não mostra tudo o que vemos. Tudo o que escrevemos com o corpo deixa marcas no próprio corpo. O corpo escreve e é escrito.

Viagem? Pense na moda, por exemplo. Ou melhor, pense em algo que tem a ver com o universo da moda: você acompanhando blogs e criando um certo modo de se vestir. Isso tem a ver com o corpo, com a escrita do/no corpo – a partir do que vê no corpo de outra pessoa, mas querendo escrever seu próprio corpo, deixar uma mensagem (statemente, as they say). Penso que inventar moda e pesquisar sobre moda não se reduz a estratégias de mercado, desejos consumistas ou fome de poder — apesar de muitas vezes essas questões dominarem a cena. Trata-se, também, da busca de cada sujeito (de cada uma, de cada um) por descobrir/inventar/construir seu modo único de estar no mundo, de achar uma forma de dizer algo que lhe é próprio, singular, e que busca ser expresso e lido/visto, numa relação com o outro. Moda estabelece ligação, laço, pelo olhar.

A singularidade está em questão, numa relação. Este espaço servirá para buscar isto (relação/troca e expressão singular) através da moda e, também, por outras vias. Por isso o lançamento. Porque a busca dessa escrita/leitura do corpo se dá, também, num salto. Inclusive, num salto alto.

Sou grata pelo tempo que você deixa aqui, presente.

Beijo,
Júlia

0 thoughts on “Convite: lançamento

  1. Querida! Que delícia, que privilégio. Me lanço contigo, degustando… acompanhando a construção desse estilo, essas palavras encorpadas!!! Como vinho: cheiro, gosto, textura, e, claro, um tantinho de embriagez o que deixam as parcerias sempre mais vivas. VIVA! Beijos da sua amiga-leitora.

    • Minha amiga-bailarina-escritora-leitora-amante das letras, irmã, parceira nessa construção de estilo. Cada uma a seu modo. Compartilhando sempre. Que bom estar na letra, contigo, aqui também. Viva viva! E amanhã tomo uma taça de vinho em sua homenagem. Beijo!

    • Encontro de dois corpos que buscam um traçado pelo mundo. Cada qual à sua maneira, ambos bailando e prestes a ingerir muita caipirinha juntos!
      Beijos, Clarota. Uma honra te ter como leitora.
      Continue por aqui. O espaço é nosso.

  2. Amiga-irmã-madrinha, que deleite! Li com minhas hortênsias em mãos, com a minha melhor roupa e sapatos que tanto adoro. Estou curiosíssima pelas próximas letras que virão. A propósito, estas estão muito bem desenhadas! Que orgulho! O corpo de seu blog está ficando lindo! Quero mais!!! Beijo da Noiva

    • Amiga-hermana-afilhada…você lê este novo fruto do desejo, estas letras-desejo desenhadas, enquanto vai se afilhando a mim…ao texto… uma linhagem vai se formando da nossa amizade que nasceu há… quase quinze anos! Uhu! Que bom que você quer mais! E eu te quero mais aqui, pertinho, leitora e, também, com sugestões de pautas, desenhos… Aliás, o blog está aberto para intervenções. Passa a senha pra Didi, se vc quiser. Ela disse que ficava admirando minhas roupas. haha. Um beijo, noivinha predileta (noiva = estado de suspensão do desejo).

  3. Juju qrida,
    Que delícia de palavras! Que convite encantador! Me lanço junto! Belas palavras para vestir e despir o corpo! O estilo das linhas e a combinação de gestos: pura construção! Tô por perto, bem pertinho, acompanhando por aqui!
    Bjuju

    • Maizita,

      Que bom! Te ter ao meu lado é fundamental, para compormos (e decompormos) juntas.
      É isso mesmo: palavras para vestir e despir o corpo. Não há como não vestir a nudez.
      Linda!
      Beijos!

  4. Julinha querida,
    Obrigada por mais este espaço de compartilhar encantamentos! Seu olhar cuidadoso às delicadezas da vida oferece um presente a quem lê. Seu convite me trouxe sorrisos e inspiração.
    Beijo carinhoso!

    • Que lindo, Juninha!
      Que mensagem mais delicada a sua!
      Você não imagina o quanto é bom poder te ter por aqui, mais pertinho. Você vai poder contribuir muito com esse blog…quero suas dicas e comentários porque sei que tem o que dizer, viu?!
      beijinhos

  5. Também sinto essa necessidade do salto, inclusive do salto alto! Inventar moda é ir em busca da singularidade! Parabéns pelo blog, adorei! Lindo, descolado e sensível, como você é!

    • Cris,
      nos encontramos no salto! em busca da singularidade…
      as pequeninas arretadas no salto alto!
      e, me conta: anda inventando muita moda? saudade.
      Fiquei super feliz com seu comentário e os elogios!Fofa!

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