Vestido de folhas,
Vestido de letras

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Prossigamos com a nossa semana dedicada aos vestidos. Ao invés de pedir habituais e formais desculpas pelo sumiço nos últimos dias, ressalto que nosso compromisso não é com o relógio (com o tempo cronológico), mas com um certo desejo de escrita e refinamento da letra para os quais há um tempo outro, incerto.

O que está em causa, agora, especificamente, são os vestidos e a natureza. Passamos pelo traço de Gauguin, pelo seu desejo de conhecer o essencialmente natural. Mas antes mesmo que nos voltássemos para a obra deste pintor, a querida Lília Lima – cujo olhar tem sido preciso na leitura e na conjunta feitura da trama do nosso Vestido -, enviou-me algumas fotos de um projeto delicado que me capturou: Fashion in Leaves. Moda em folhas, Moda nas folhas. Indo além, podemos escutar no “leaves” (a princípio, “folha” na forma plural), o verbo “leave” (partir, conjugado na terceira pessoa do singular). Sobra uma preposição (in), mas, deixando-a de lado, temos “Fashion Leaves”. A moda parte.

Em Fashion in Leaves, Tang Chiew Ling, artista/designer da Malásia, se pergunta: é possível fazer moda com folhas? A artista se coloca esta questão a partir de sua prática, na qual explora diversos materiais para fazer poesia. Ling catou no jardim as folhas desperdiçadas pelas árvores e passou a tecer vestidos. Olhou para as folhas querendo lê-las, buscando nelas beleza, possibilidades. Encontrou diferentes formas, rugosidades, linhas, tons, variações. A partir disso, tendo como foco a elegância, ela teceu vestidos que se transformam com o tempo. Tecidos que mudam de cor/tom com o passar das horas. Por fim, ela desenhou partes de corpos de mulheres e, assim, vestiu a natureza de feminilidade.

Enchantée, Tang Ling. Merci.

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Audrey Hepburn se deu bem nessa.

Até mais!

Roy Lichtenstein está na moda

Lichtenstein está super pop. Em 2013 foi inaugurada a exposição “LICHTENSTEIN: a Retrospective”, a primeira retrospectiva internacional da obra do artista. A exposição foi primeiramente apresentada no país de origem do artista, na National Gallery of Art (Washington, D.C.), em seguida passou pela Tate Modern (Londres) e agora se encontra no Centre George Pompidou (Paris), até 4 de novembro de 2013 (quem tiver a chance de ver, aproveite). Mais de cem (125) obras do artista integram a exposição e revelam fases pouco conhecidas de sua produção.

Nesta fonte bebem outros artistas. A moda permite parcerias bem sucedidas com o(s) estilo(s) Roy. Ao que parece, no entanto, os estilistas sempre se inspiram na Pop Art de Lichtenstein, explorando pouco as outras fases da obra do artista. De todo modo, os efeitos são interessantes, cheios de vida – em meio a temas bélicos.

Primeiramente, TOM FORD com ROY LICHTENSTEIN:

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E mais: na London Fashion Week 2013 apareceram repetidas vezes o contorno bem marcado, as cores, formas e temas explorados por Roy Lichtenstein:

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Roy Lichtenstein, Nude on beach, 1977
Michael Van Der Ham (esquerda, superior) & Osman (direita, inferior)

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Roy Lichtenstein, Meat, 1962
Christopher Kane

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Roy Lichtenstein, Baked potato, 1962
Vivienne Westwood, Red Label

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Roy Lichtenstein, Still life with goldfish, 1974
Fashion East, Claire Barrow

A pintura Nude on beach é incrível! E os peixinhos dourados deste último quadro?

Transposição da tela para o corpo. Ao olhar estas imagens, podemos pensar sobre possíveis métodos para transpor traços de obras que nos fisguem – pelo estilo – para o nosso vestir.

Até mais!

Fonte: http://www.tecnoartenews.com/

Descontinuum continuum

Um vestido de letras, literalmente. Um vestido revestido de palavras. Elas estão lá, inscritas. O que se tem a fazer – como num jogo de criança – é criar as ligações, de uma a outra, continuamente, sempre descontinuadamente. Entre uma palavra e outra: pausa, branco, não-palavra. É preciso costurar o ar até ir ao encontro do próximo significante a ser fisgado. De uma palavra à outra, infinitamente, mantendo o começo prosseguindo, a roupa vai ganhando forma. O corpo vai escrevendo e sendo escrito. O simbólico fisga o real, em alguns pontos. Vestido-pele-letra.

Nosso vestido começa a ser moldado por outros, antes de tomarmos a palavra. Um dia, a linha passa pelas nossas mãos. O que escrever? Que pele se pode tecer?

Poderia haver imagem mais literal do Vestido de Letras?

Esta é mais uma obra de Julia Valle, estilista/artista pesquisadora (www.juliavalle.com). Do site da artista retiramos o seguinte texto sobre a obra:

“O Continuum é um projeto cross-media e internacional, buscando colaborações infindáveis entre pessoas criativas de todo o mundo, a fim de produzir idéias autênticas e sensações sensoriais múltiplas. Foi fundado por Maja Mehle (Eslovênia) e Julia Valle (Brasil) e teve sua primeira exposição em Ljubljana, Eslovenia, na galeria SQUAT. Apresentou peças de vestuário exclusivas, fotografadas por Aljosa Rebolj, vídeo por Amir Admoni e trilha sonora por Alex Drimonitis. Abaixo, algumas imagens do projeto e arquivos para download.

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A bela nas fotos é a artista.

Toda minha admiração pelo trabalho desta moça tão querida.

Julia Valle acaba de lançar sua nova coleção – Flyingglow. Amanhã posto fotos das peças.

Beijos e boa semana!

Júlia

Vamos vestir Magritte

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Expressar-se artisticamente livre do controle do pensamento. Criar sem se ater a padrões estéticos ou morais. Compor novas formas de modo que o funcionamento do pensamento venha à tona, fazendo ver suas contradições, falta de lógica, bizarrices, seus elementos surreais. Fazer dos sonhos material de trabalho. Produzir uma arte que não seja escrava da racionalidade e dos padrões vigentes.

Estes eram alguns dos princípios do surrealismo, movimento artístico encabeçado pelo poeta, crítico e psiquiatra francês André Breton, na década de 20. Fortemente influenciado pelas inovadoras idéias de Freud – o qual considerava os sonhos a via régia de acesso ao inconsciente -,  o surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa, propõe que o fazer artístico seja realizado em estado de automatismo psíquico – ou associação livre – buscando atingir uma realidade superior, descrita como “maravilhosa” no Manifesto Surrealista de 1924.

O surrealismo foi fortemente influenciado pela psicanálise. Salvador Dali, Luis Buñuel, Max Ernst, Antonin Artaud e outros artistas criavam formas que deixavam ver que a riqueza do pensamento humano, que vai muito além do que costumamos dizer ou mesmo pensar que pensamos. Mas, e se a estética proposta pelos surrealistas invadisse o campo da moda? Como fazer ver o funcionamento inconsciente nas roupas, nas composições, naquilo que adorna o corpo? Como fazer a corpo sonhar? Como sonhar com as roupas estando acordado?

O fotógrafo Andrew Matusik inspirou-se em Magritte e fez um belo ensaio para a Revista Genlux, no inverno de 2008. O resultado é muito interessante, associando a elegância ao Estranho. Ontem, em nosso Look do Dia com Arte, nos inspiramos em uma das fotos deste ensaio. Hoje trago, para vocês, mais fotos do editorial. Afinal, é impossível pensar moda sem sonho e este sonho não precisa, necessariamente, ser o da princesa e seus sapatinhos. Podemos extrair formas mais complexas, únicas, bizarras da dimensão onde realmente somos e nem pensamos.

Observação: atenção para os penteados!

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Processo de composição. Da inspiração em Magritte à foto do editorial:

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Preto e branco bombaram no ensaio. Maravilha!

A proposta do Vestido de Letras vai de encontro à deste editorial: se inspirar em fontes interessantes, incluir novas formas em seu modo de se colocar no mundo. O surrealismo é um bom ponto de partida, de abertura.

Espero que tenham gostado. Boa quinta-feira!

Beijos,

Júlia

Por um fardo mais leve

Cooking cristals, Tunga (2006-2009)

Cooking cristals, Tunga (2006-2009)

O ponto mais rico de um blog é seu caráter de experimentação e fato de abrir um espaço para a livre criação. Aqui, podemos colocar as letras que desejarmos, tratarmos dos assuntos que nos interessarem, sem termos que seguir um script ou uma fórmula – mesmo porque o nosso objetivo não é descobrir a fórmula do sucesso, e sim, valorizar os traços singulares de cada sujeito, de cada obra. O blog tem tido efeitos interessantes em minha vida, em meu modo de pensar. Algumas idéias vão se transformando, recolocando, sumindo e aparecendo de outros modos e em outros lugares. A princípio, a idéia era publicar  apenas assuntos claramente relacionados a moda e a arte. No entanto, com o tempo percebo que uma diversidade de assuntos relacionam-se a estes temas. Cada vez mais encaro a moda como um pensamento e como uma forma de expressão pela forma. Penso a moda menos como uma fórmula e mais como uma experimentação. Menos como consumo e mais como criatividade. Menos cópia e mais inspiração. A moda está ligada a vários outros campos e atividades, articulada a diversos outros aspectos do “inventar um mundo dentro do mundo”. Se pensarmos em estilo, então, aí que as linhas e conexões se ampliam.

Moda e estilo envolvem uma reflexão sobre o sujeito, sobre a singularidade, sobre escolhas. Como tornar o fardo de ter que fazer escolhas mais leve? Nesse sentido, trago hoje, para vocês, um texto da nova colaboradora do Vestido de Letras, Cecília Lana. Cecília é jornalista, estudante de psicologia e psicanalista em formação. Fã de profissionais que transitam por diferentes campos de saberes, entre a psicanálise, a literatura e as colunas de jornal. Tem um modo de se vestir e de se expressar únicos e anda sempre inventando umas modas por aí, dando nó em pingo d’água. Bem vinda, querida Cecília!

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por um fardo mais leve

cecilia-mini2 Cecília Lana

Nos últimos anos, fiz as pazes com minha escolha profissional. Não definitivamente, é claro, porque aprendi que essa certeza é impossível. Mas pelo menos por enquanto. A verdade sobre uma escolha profissional é que ela é sempre provisória, que pode ser reorientada a qualquer momento da vida, que é matéria de eterna construção. Isso porque, primeiro, a escolha muda acompanhando as mudanças de direção de nossos desejos (que, inclusive, nem sempre são facilmente identificados por nós). E, segundo, porque existem diferentes vias de acesso àquilo que desejamos.

Mudanças

Me formei em Comunicação Social e trabalhei como jornalista por dois anos, ao mesmo tempo em que prestava vestibular para Psicologia e começava a cursar os primeiros períodos dessa graduação. Passei parte da faculdade de jornalismo namorando a psicologia e a psicanálise e, agora, estudo Psicologia flertando com o jornalismo. Ironia do destino ou não, o fato é que hoje trabalho em um cursinho pré vestibular, orientando jovens no momento da escolha profissional.

Pacote fechado?

O que procuro fazer por esses adolescentes que chegam ansiosos e angustiados à sala da psicologia é mostrar a natureza complexa disso que chamamos “escolha profissional” e que, ilusoriamente, é vendido por aí como sinônimo de “marque o X na opção de curso superior desejada”. Achar que o pacote vem pronto, esse é o grande engano. Um engano que traz mais sofrimento do que a própria escolha profissional já exige. Porque é dessa concepção de pacote fechado que nascem os dilemas que escuto todos os dias no pré vestibular: “como vou saber aos 17 anos o que farei pelo resto da minha vida?”; “e se eu não tenho todas as habilidades necessárias para o exercício da profissão que eu escolher?”; “e se eu me formar e depois não gostar da profissão na prática?”; “e se eu me cansar da profissão depois de alguns anos?”; “e se eu não encontrar lugar para atuar no mercado de trabalho?”.

Considerações

Algumas considerações que podem ajudar a responder às perguntas acima:

1- Como eu já disse anteriormente, escolher a profissão não é escolher o que você fará pelo resto da vida. Isso porque…

2- Sempre é possível recalcular a rota e, além disso, não há uma única prática profissional para cada tipo de carreira; existem práticas inúmeras, reinventadas cotidianamente por profissionais guiados por suas paixões.

3- Não existe um conjunto perfeito de habilidades essenciais para realizar determinado trabalho. Pelo contrário, a maneira de ser profissional é construção de cada um. Cada pessoa tem seu estilo de exercer a profissão e é justamente aí que está a riqueza! (Essa consideração é bem importante porque carrega no fundo o argumento de que não existe vocação, isto é, de que não existe uma profissão “certa” para alguém).

4- O mercado é um ponto interessante. À primeira vista, parece um critério bem objetivo de escolha: dificilmente alguém ficará desempregado como engenheiro ou médico e raramente alguém poderá enriquecer sendo pedagogo, certo? Mas não seria muito arriscado, em se tratando de uma escolha tão importante como a profissional, confiar nas estatísticas, colocar tudo nas mãos de um critério que é externo a nós, sob o qual não temos controle? Conheci muitos engenheiros que passaram parte das décadas de 1980 e 1990 desempregados. Trabalhei com pedagogos que ganham dinheiro lecionando na rede pública, realizando pesquisas em instituições de ensino superior e trabalhando com políticas públicas na área da educação. E não vou nem entrar aqui no mérito de que há de se questionar qual é o significado e o peso do “enriquecimento” no projeto de vida de cada um.

Projeto de vida

Parêntese. Quando falo em projeto de vida, estou me referindo a uma noção mais ou menos estruturada (na maioria das vezes até fugidia) daqueles elementos, objetos, pessoas e sentimentos que queremos que façam parte de nossa vida, que estejam próximos de nós de maneira permanente. Por exemplo: posso fazer uma ideia de que quero que a literatura esteja presente em minha vida de forma determinante, pois, sempre que estou na presença do objeto livro, sinto, mesmo que por um cintilar de segundo, que estou na direção certa: direção de meu desejo. Mas o que vou fazer com esse sentimento e como ele vai configurar minha escolha profissional varia: posso me tornar professora, bibliotecária, pesquisadora, escritora, jornalista, consumidora compulsiva de livros. Fecha parêntese.

Bifurcações

Hoje, penso nos colegas formados em comunicação e vejo que seguiram os mais diferentes caminhos profissionais: críticos de cinema, produtores culturais, publicitários, pesquisadores, jornalistas, assessores. Ok, até aí entendo que se trata de uma diversidade própria do campo da comunicação que não ajuda muito a fortalecer meu argumento de que o bom mesmo é sermos guiados por um projeto de vida, maior, dentro do qual a profissão deve se encaixar.

Mas posso falar daqueles colegas que, depois de graduados, iniciaram outros cursos, tornaram-se atores, chefes de cozinha, comerciantes, economistas – e que sempre exercerão suas profissões de uma forma um pouquinho diferente por terem se formado comunicadores. Posso falar também daqueles que conseguiram trabalhar com a comunicação de maneira, digamos, mais “convencional”, como jornalistas e repórteres, e que, ainda assim, fincaram os pés em outras áreas: pós graduação na área da política, mestrado em literatura, aulas de línguas, tradução de textos. E eles o fazem guiados tanto por paixões quanto por necessidades financeiras, buscando equilibrar a balança entre o mercado e o desejo.

Escolha profissional ≠ Curso superior

Penso nisso tudo e me sinto livre para ir montando essa equação de forma meio intuitiva e passional, escolhendo os caminhos que me acenam com vida. Bom, para mim, para os jovens que recebem orientação no cursinho e (espero) para a maioria das pessoas, entender a escolha profissional dissociada da ideia da escolha do curso superior e mais próxima da noção de um “projeto de vida” é muito apaziguador.

Mas, para fazer isso, é preciso ceder à dura verdade de que uma parcela de tudo na vida é mesmo aposta. E soltar o corpo!

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Espero que o texto possa inspirar vocês a desenharem e costurarem seus projetos de vida a partir do estilo único de cada um, um ponto após o outro.

Beijos,

Júlia

Observação: o texto “por um fardo mais leve” foi originalmente publicado na Revista Enter, uma revista online cuja leitura também indico. Para acessar, basta clicar aqui.

Look do dia com Arte:
da amargura ao doce amar

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Como transformar a amargura em uma coisa outra? A questão insiste para quem  não quer ficar preso às agruras da vida. Frida Kahlo – a artista mexicana homenageada da semana – usou cores para expressar as experiências radicais pelas quais passou. Um passe de mágica. Incorporando sua magia, criei também meu passe, meu passo, fiz uma flor e dela uma oferta. Da amargura à doçura. Do amargor ao amar. Isso é o que ofereço a vocês hoje.

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Blusa/Shirt: Julia Ellian –  Calça/Pants: Pash –  Bolsa/Clutch: Brechó Brillantina  –   Sapatos/Shoes: Arezzo

Fotografia: Carolina Homem

Este é um salto que cada um precisa aprender a dar: da amargura à doçura. Cada um precisa ser capaz de dar seu passe de mágica nos momentos de aridez. Só assim a vida fica mais leve.

O look de hoje foi inspirado na capa da Vogue México na qual Frida aparece majestosa. Flores, cores vibrantes e uma calça-saia viva e dançante. Descobri que me dou bem com roupas largas. Já notaram que sempre que coloco uma saia ou calça mais larguinha me ponho a rodopiar? Descobri isso costurando este Vestido de Letras e estou decidida a investir nesse tipo de roupa que também me ajuda a ficar mais leve.

Mas vamos deixar este papo da dança pra depois. Aguardem! Vem muita coisa por aí.

Um ótimo fim de semana para vocês!

Doces beijinhos,

Júlia

Look do Dia na Pintura:
vestido de boneca

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Jenny McKean as Infanta, George Benjamin Lucks (1867-1933)

Na noite de sábado a menina – esta, que escrevia dentre vestidinhos (leia neste post) – dormia acompanhada de um sorriso mais demorado quando sabia que o programa de domingo seria ir à Feira Hippie comprar roupas novas para as suas bonecas Barbie. Essas eram uma de suas paixões, tinham o poder de fazer disparar histórias do “para sempre” com as amigas e criavam uma abertura para um mundo imaginário onde os corpos das meninas se misturavam aos das bonecas. Os corpos das meninas se misturavam aos das mulheres – e isso era delicioso para a menina que tinha pressa de ser algo além.

A menina cuidava de sua coleção de bonecas com todo zelo do mundo e escolhia a dedo quem brincava com elas pois levava a brincadeira a sério. A caminho da feira, deixando o olho deitar e mirando a passagem rápida da cidade pelos vidros do carro – movimento embalado pela voz da mãe – a menina já ia sonhando e contando quais e quantos sapatinhos compraria, quais modelos de blusinhas gostaria de encontrar para vestir tal e tal boneca (ia inventando modelagens…), mas suspirava mesmo ao pensar nos vestidos, peças que sempre davam uma graça a mais aos corpos esbeltos das Barbies.

Ao chegar à feira, era conduzida pelas mãos da mãe que a agarrava com força e amor, tentando diminuir o risco de se perdessem na multidão. Depois de atravessar fileiras e mais fileiras de barracas, chegavam à parte da feira onde só se vendia brinquedos. E era lá que se encontravam as senhoras – sim, pelo que a menina lembra, quase sempre eram senhoras – que costuravam as roupas de suas bonecas, as suas roupas. A negociação começava pelo olhar. A menina olhava os olhos da vendedora e dali já extraia desejo ou não-desejo pelas roupas. Porque ela acreditava – e ainda acredita – que tudo começa no afeto/ideia – no olhar/corpo. Antes das roupas vem aquilo que as anima. É isso, antes de tudo, que um corpo veste. Naquela nogociação de olhares, vozes, gestos, a menina escolhia, antes das roupinhas, qual senhora queria para ser a autora das formas que levaria para casa. Escolhida a vendedora, passava a escutar o que esta lhe dizia a respeito do estilo das roupas, do corte, modelagem e costura. Com a ajuda da mãe, ia imaginando, misturando seu corpo aos das bonecas, pensando nas imagens que catava – com a ajuda do olhar da irmã mais velha – em revistas de moda, vitrines, na tv e pelas ruas, e ia escolhendo os sapatinhos, as saias, as blusas, os vestidinhos, as bolsas, formas… Que ecoariam dali em diante.

Este era um de seus programas prediletos. Preferia comprar roupas para as bonecas do que para ela mesma. Porque neste processo o que se dava era um enlaçamento, em ponto de letra, entre o seu corpo, o corpo da mãe, o da irmã, os das senhoras costureiras, os das bonecas e o da mulher que ela desejava ser.

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Essas lembranças infantis foram disparadas pelas imagens do desfile da coleção criada pelo estilista Fause Haten para a 35a Edição da São Paulo Fashion Week, a SPFW13/14. Haten é estilista, mas também é músico, ator e figurinista. Conjuga várias formas de arte nas formas que cria e, com isso, imprime uma letra única, musical e teatral, nas roupas. No desfile em questão, teve a brilhante idéia de acessar o infans que habita todos nós da forma mais linda possível – pelo menos no caso das meninas/meninos que brincaram de bonecas. Quando os espectadores dos desfile esperavam que entrariam modelos na passarela, lá vieram as marionetes. Sim, bonecas no lugar de modelos (pois é assim que funciona). As bonecas representavam modelos que o designer gostaria de ter na passarela e algumas que já haviam desfilado para a marca. As marionetes desfilaram vestidos suntuosos, trabalhados em cada detalhe, com cores e modelos bastante variados. Vestidos à la red carpet. Glamour, sonho, fantasia, desejo. Os vestidos costuraram, mais uma vez, o corpo das bonecas, aos das meninas-mulheres e ao do estilista (como acontecia, também, em meus domingos de Feira Hippe). Haten conseguiu dar forma a um universo encantador que nos habita e brincou com o tempo e as lembranças, acessando um ponto do corpo em que a linguagem é tão infantil e tão atual. Resultado: desfile memorável aplaudido de pé.

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Fause Haten com suas crias

Incrível, não?!

Conseguem identificar a Maria Rita (cantora) em meio às “modelos”?

Vamos brincar de boneca?

Beijos e boa semana!

Júlia

Obs: A Feira Hippie é uma enorme feira de artesanato (e outros) que acontece aos domingos, na Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte. Vale a pena conhecer!

Moda-Arte:
fios de cabelo pelo corpo

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Colar criado pela estilista Julia Valle. Foto: Julia Valle.

Nesta semana temos falado tanto sobre cabelos e os adereços que podemos inventar para enfeitá-los – produzindo efeitos incríveis e inusitados sobre todo o corpo – que eu não poderia deixar de compartilhar com vocês a minha aquisição mais inusitada de todos os tempos: uma obra de arte, um colar feito de fios de cabelo. Sim, da cabeça para o pescoço os lugares do corpo se misturam, gerando um efeito curioso e, ao meu ver, original e belo. O colar é composto de fios de cabelo sintético e foi criado pela estilista Julia Valle (amiga querida e interlocutora de longa data) cujo trabalho vocês podem conhecer através do site dela (é só clicar aqui). Ela já trabalhou junto a diversas marcas nacionais (Redley, Ellus 2nd Floor, Alphorria, Printing, Mara Mac), colaborou com estilistas internacionais, fez várias exposições, além de ter desfilado coleções próprias na Rio Fashion Week. Ela faz roupas e é pesquisadora (está no mestrado da UFRJ). Faz um trabalho  potente que enlaça – literalmente e materialmente – corpo, discurso, roupa, misturando tudo com gestos artísticos precisos.

Meu colar favorito (sou morena e ele loiro!):

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Outras jóias cabeludas por Julia Valle:

Colar: Julia Valle. Foto: Julia Valle

Colar: Julia Valle. Foto: Julia Valle

Pulseira: Julia Valle. Foto: Julia Valle

Pulseira: Julia Valle. Foto: Julia Valle

Julia também produziu quatro suéters bordados com cabelos a fim de compor uma peça fotográfica para uma exposição da Grafuck em Los Angeles. Fios de cabelo foram utilizado no lugar das comuns linhas de bordado, como material para criar os suéters subvertidos. Acho o efeito incrível e potente. São peças lindas! Mira só:

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Autista Collaboration, obra e fotos Julia Valle

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Autista Collaboration, obra e fotos Julia Valle

O corpo precisa ser enlaçado à roupa. Não podemos pensar e tratar os objetos que vestimos como artefatos carregados pelo corpo, “puros” objetos de consumo. Sabemos que são sempre mais do que isto. “A roupa é comunicação“, como aponta Júlia Valle. A roupa é um invólucro que passa a fazer parte do corpo (toma corpo) e que representa um corpo para outro corpo, dentro de uma comunidade. O efeito advém da troca. A roupa é carregada de sentidos. Compõe com o corpo e é enlaçada ao corpo pelas nossas letras, pelos nossos gestos e palavras. Ou seja, uma roupa estabelece um diálogo o outro – está tudo entrelaçado, tudo junto, emaranhado. A roupa participa do laço social e, para tanto, precisa de fios que cada sujeito amarra à sua maneira.

Vamos que vamos! Com arte!

Um beijo!

PS: Quero agradecer MUITO pelo retorno que têm dado sobre este trabalho através de comentários, imagens via facebook (curte aí para receber as atualizações), por mensagens, e-mails… Muito bom! Valeu, de coração!

Look do dia com Arte:
aprender sobre o simples com aves

Meschers, Ellsworth Kelly (1951)

Meschers, Ellsworth Kelly (1951)

Do minimalismo sóbrio de Sabrina Meijer, do Afterdrk (leia mais neste post), seguimos para a simplicidade banhada de cores que marca o estilo do pintor, escultor e printmaker contemporâneo Ellsworth Kelly (1923-). Kelly explora, em sua obra, o contraste entre formas evidenciadas por cores vivas. O artista conta que, quando criança, era  convidado por sua avó para praticar birdwatching (que poderia ser poeticamente traduzido como “apreciação de pássaros”). Tal prática teria levado o menino a observar, com os pássaros, as formas da natureza. Daí sua paixão pelos contornos (geométricos e orgânicos) e pelas cores.

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Em exposições de arte contemporânea, é comum escutarmos comentários do tipo: “Ah, mas também eu faria isso!”, “Parece trabalho de criança”. Sim, talvez uma obra de arte contemporânea possa parecer excessivamente simples. Mas  quem faria isso ao longo de anos a fio, de uma vida? Quem se permitiria não abandonar os gestos da infância? E mais: o que leva à criação de um quadro como este na década de 50? Qual foi o contexto que propiciou tal criação? Estas questões precisam ser levadas em conta. Afinal, a criação de uma obra de arte é sempre um diálogo. Assim, o exercício contínuo de dar forma e cor à vida – buscando a simplicidade – é admirável. Na criação deste look, quis dialogar com a obra Meschers (1951), transpondo suas cores, formas e referências à natureza para o corpo.

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rindoBlusa: QGuai/Saia: QGuai/Cinto: Complot/Sapatos: Luiza Barcellos

Fotografia: Carolina Homem

A obra que serviu de inspiração para este post – e que retrata, de modo singular, a região francesa Meschers-sur-Gironde – faz parte do acervo do MOMA (Museum of Modern Art, NY). O museu tem um acervo incrível. Super recomendo a visita!

Espero ter colorido um pouco os seus olhos.

Beijos,

Júlia

Inspiração:
Afterdrk

O estilo que cada corpo imprime no mundo reflete o modo como cada sujeito lida com seu desejo. Cheguei a esta conclusão através de minha própria análise  – pois meu estilo foi mudando ao longo do processo – e, também, viajando por blogs oriundos de diferentes partes do mundo. Percebo que as blogueiras de países nórdicos – tais como Holanda, Dinamarca, Finlândia, dentre outros – têm uma destreza impressionante para criar produções ousadas, sofisticadas e simples, tudo ao mesmo tempo. Sem afetações – e com um refinamento preciso e precioso em cada detalhe. Costumam optar por cores mais sóbrias e neutras – influenciadas pelo clima, talvez – e investem na experimentação das texturas dos tecidos, dos volumes que podem ser gerados e no caimento das peças. Na escolha dos acessórios, são primorosas: as peças são diferenciadas e resignificam a composição. Admiro muito essa combinação de habilidades e este investimento nos detalhes de forma sutil, valorizando a delicadeza. Isso envolve uma atenção aos grãos – que a escrita também implica. Trabalho em ponto de letra, preto, branco e muito mais.

www.afterdrk.com

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Um dos blogs que seguem essa linha – e talvez um dos primeiros que eu tenha começado a seguir em minhas pesquisas – é o Afterdrk, da holandesa Sabrina Meijer. Ela afirma ter criado o blog (em 2009), com a intenção de atrair pessoas ávidas por idéias ligadas a moda e que apreciam a simplicidade associada a toques de ousadia. Sabrina traz algo singular ao cenário. Ela cria um efeito boyish (masculinizado) em suas produções, pegando várias peças emprestadas do guarda-roupas do namorado. Tem uma feminilidade explícita, mas cria um contra-ponto interessante. Surgem pontos de vibração, cor e requinte em meio a peças clássicas, de corte simétrico. Alterna entre delicados sapatos de salto, tênis e chinelos mais arrojados. Enfim, onde você menos espera surge uma deliciosa surpresinha.

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E vocês, que efeitos têm criado no mundo?

A inspiração serve para tomar fôlego, mas o que um corpo expira é sempre algo único. No fim das contas, cada um fala uma língua, seja aqui ou acolá. A riqueza está em buscar captar letras dessa língua, traduzir, transpor, criar sempre uma língua nova.

Beijos,

Júlia