Vestido de folhas,
Vestido de letras

c56d1d80ad92ab35d4ee2e31652eb864_TRATADO

Prossigamos com a nossa semana dedicada aos vestidos. Ao invés de pedir habituais e formais desculpas pelo sumiço nos últimos dias, ressalto que nosso compromisso não é com o relógio (com o tempo cronológico), mas com um certo desejo de escrita e refinamento da letra para os quais há um tempo outro, incerto.

O que está em causa, agora, especificamente, são os vestidos e a natureza. Passamos pelo traço de Gauguin, pelo seu desejo de conhecer o essencialmente natural. Mas antes mesmo que nos voltássemos para a obra deste pintor, a querida Lília Lima – cujo olhar tem sido preciso na leitura e na conjunta feitura da trama do nosso Vestido -, enviou-me algumas fotos de um projeto delicado que me capturou: Fashion in Leaves. Moda em folhas, Moda nas folhas. Indo além, podemos escutar no “leaves” (a princípio, “folha” na forma plural), o verbo “leave” (partir, conjugado na terceira pessoa do singular). Sobra uma preposição (in), mas, deixando-a de lado, temos “Fashion Leaves”. A moda parte.

Em Fashion in Leaves, Tang Chiew Ling, artista/designer da Malásia, se pergunta: é possível fazer moda com folhas? A artista se coloca esta questão a partir de sua prática, na qual explora diversos materiais para fazer poesia. Ling catou no jardim as folhas desperdiçadas pelas árvores e passou a tecer vestidos. Olhou para as folhas querendo lê-las, buscando nelas beleza, possibilidades. Encontrou diferentes formas, rugosidades, linhas, tons, variações. A partir disso, tendo como foco a elegância, ela teceu vestidos que se transformam com o tempo. Tecidos que mudam de cor/tom com o passar das horas. Por fim, ela desenhou partes de corpos de mulheres e, assim, vestiu a natureza de feminilidade.

Enchantée, Tang Ling. Merci.

5a0090f57a2736e1b384dd02c4b1327e_TRATADO

e117a7d98d822bb322efb80aceeea534_TRATADO

e5c88851476e2550afb5c366c9c5770d_TRATADO

a3ff0edf9423f838b006d7cb080ede4b_TRATADO

396b30debd01c77d6c63634bd69db61d_TRATADO

23e406d8228d77c362deba4308e2ee42_TRATADO

2fde3659376e998b16d63d8fec2024a1_TRATADO

2ac230ba252e82b50b5dfefe71923b6c_TRATADO

Audrey Hepburn se deu bem nessa.

Até mais!

Tempo de Moda
no Vestido de Letras

Meteo_23_08_13

Pop_Art_23_08_13

Os dias têm estado iluminados, o inverno é claro. Pouquíssima humidade, muito vento, muito sol. Há algo na abundância de luz que dilui a noção do tempo: em que mês estamos?

Ainda que haja luz, cada um tem que se haver com o acinzentado que se instaura em cada corpo com o passar do tempo, com o passar da vida através dos olhos. É inevitável: o olhar e as palavras são coloridos pelo cinza da fresta que se vê – repetidas vezes – entre o que se imagina e que o se realiza. O tempo desbota. Mas o cinza tem sua beleza. E para que o cinza seja a marca de uma boa dose de realidade, pode-se recorrer aos ventos e sóis para alumbrar o dia (como propõe a poeta Ruth Silviano Brandão). Pode-se recorrer às cores, aos baldes de tinta, às peças coloridas, aos desenhos animados e histórias em quadrinhos, à poesia, à arte.

Em clima de Pop Art, resolvi criar, para esta sexta-feira ensolarada e pouco fria, este look marcado por rosa e azul – cores fortes e contrastantes. Geralmente, ao criar produções com cores, escolho duas que sejam distantes na paleta, mas que caiam bem juntas, assim, pela diferença. E na história toda fico brincando com elas. Arco-íris bicolor para um olhar ávido de tons vivos.

Criei esta produção virtual no portal Tempo de Moda. Lá você pode fazer um exercício interessante de criatividade e composição ao montar looks de acordo com a previsão do tempo para a sua cidade. Além disso, todas as peças podem ser adquiridas através do portal.

Bom fim de semana!

Roy Lichtenstein está na moda

Lichtenstein está super pop. Em 2013 foi inaugurada a exposição “LICHTENSTEIN: a Retrospective”, a primeira retrospectiva internacional da obra do artista. A exposição foi primeiramente apresentada no país de origem do artista, na National Gallery of Art (Washington, D.C.), em seguida passou pela Tate Modern (Londres) e agora se encontra no Centre George Pompidou (Paris), até 4 de novembro de 2013 (quem tiver a chance de ver, aproveite). Mais de cem (125) obras do artista integram a exposição e revelam fases pouco conhecidas de sua produção.

Nesta fonte bebem outros artistas. A moda permite parcerias bem sucedidas com o(s) estilo(s) Roy. Ao que parece, no entanto, os estilistas sempre se inspiram na Pop Art de Lichtenstein, explorando pouco as outras fases da obra do artista. De todo modo, os efeitos são interessantes, cheios de vida – em meio a temas bélicos.

Primeiramente, TOM FORD com ROY LICHTENSTEIN:

TOMFORD_TRATADO

E mais: na London Fashion Week 2013 apareceram repetidas vezes o contorno bem marcado, as cores, formas e temas explorados por Roy Lichtenstein:

Roy-Lichtenstein-london-fashion-week-02_TRATADO

Roy Lichtenstein, Nude on beach, 1977
Michael Van Der Ham (esquerda, superior) & Osman (direita, inferior)

Roy-Lichtenstein-london-fashion-week-03_TRATADO

Roy Lichtenstein, Meat, 1962
Christopher Kane

Roy-Lichtenstein-london-fashion-week-04_TRATADO

Roy Lichtenstein, Baked potato, 1962
Vivienne Westwood, Red Label

Roy-Lichtenstein-london-fashion-week-05_TRATADO

Roy Lichtenstein, Still life with goldfish, 1974
Fashion East, Claire Barrow

A pintura Nude on beach é incrível! E os peixinhos dourados deste último quadro?

Transposição da tela para o corpo. Ao olhar estas imagens, podemos pensar sobre possíveis métodos para transpor traços de obras que nos fisguem – pelo estilo – para o nosso vestir.

Até mais!

Fonte: http://www.tecnoartenews.com/

Intere$sante?

roupas_TRATADO

Nosso Vestido é de letras. Portanto, ele vai além da imagem. Há a imagem, mas não é só dela que um corpo se (re)veste ou se compõe. Ela se costura com letra e afeto. O Vestido pulsa com o corpo.

A letra, aqui, é também rastro, marca inscrita. Por isso mesmo, para além das imagens dos produtos/objetos de arte/peças criados pela estilista mineira Julia Valle, fez-se necessário trazer para o nosso Vestido as letras dessa artista, para respirarmos com seu estilo. As letras de uma estilista que inventa Moda e que pensa/pulsa arte. Uma estilista cujos posicionamentos políticos e éticos são bem demarcados e podem ser observados por quem convive com ela, em seus mínimos gestos, em todas as suas propostas, em seu corpo, enfim. Uma estilista que propõe uma Moda (sim, com M maiúsculo), que visa o bem-estar do sujeito, para além de impulsos de consumo e da satisfação imediata que se experimenta ao dar um “check” na lista de compras das peças que expõe a ligação do sujeito com as últimas tendências. Uma Moda que visa o bem-estar em comunidade, ou seja, que pensa no bem comum. Raridade.

Conheço a Julia há mais de uma década e o que mais me encanta na trajetória dela é que as glowing-roupas às quais ela dá a luz são pontos/restos de um rastro que compõe uma forma de estar no mundo única, solidária, cheia de estilo, que encanta os que estão à sua volta pela simplicidade, elegância e firmeza.

Por tudo isso, resolvi, no capítulo de hoje, trazer uma listinha (inédita!) escrita por Julia Valle (adoro listas!), com alguns apontamentos sobre o que ela propõe como Moda (interessante) em contraposição à moda (interes$ante):

  • Uma vestimenta têxtil atemporal não é perecível
  • Moda não sazonal não deve ser tratada como moda de tendências
  • A moda sazonal gera aumento em consumo, lixo e insatisfação
  • Clientes de oportunidade são diferentes de clientes de verdade
  • A motivação primeira em produzir uma coleção/projeto não é o lucro
  • Um objeto de Moda deve atravessar décadas como não‐obsoleto, enquanto um objeto de tendência não dura mais que uma estação
  • Uma Moda ética propõe e visa a construção de coleções particulares sucintas, duradouras e especiais
  • Tenha 1 peça muito especial no lugar de 10 fast‐fashioned
  • A terrível máxima minimalista “less is more” se aplica amplamente à Moda que busco(amos)

 

Ficamos por aqui.

Beijos,

Júlia

Tempo de Moda no Vestido de Letras:
Olivia Palito forever

Preto, branco e vermelho. Eu poderia me vestir assim todos os dias (já abordei essa mistura aqui). É a combinação que mais encontra lugar em meu corpo. Por quê? Não sei. O toque navy (estilo marinheiro) é lindo. E a Olívia Palito faz parte das primeiras figuras com as quais convivi na infância. Sempre admirei a elegância dela. Confesso que há uma facilidade e praticidade em apostar em uma combinação que se sabe que funciona (pelo menos para os seus olhos). Mas a mistura nem é tão fácil porque o limite entre uma produção interessante e elegante e uma produção muito infantil é tênue. Neste sentido, a escolha de peças com formatos mais clássicos oferece certa segurança. E prefiro quando o vermelho aparece nos acessórios – como pontos de cor – especialmente nos pés.

Desta vez me inspirei em looks já criados para montar minha produção do dia no Tempo de Moda. Resolvi que o vermelho apareceria nos pés e escolhi este sapato lindo (mistura de boneca com scarpin). Achei o modelo dos mais acertados que já vi (um dia ainda terei um desses sapatinhos vermelhos). Shorts porque os raios de sol esquentam nosso belo horizonte repleto de lindos ipês (maravilha). Mistura de preto e branco. Pronto! Para a brisa da noite, meia calça e lenço no pescoço (quem sabe em tom caramelo, como em uma das fotos-inspiração). Adorei a combinação!!!

Captura-de-Tela-2013-08-02-às-12.50.03_TRATADO

Look_TRATADO

Imagens que inspiraram a composição:

sapato-vermelho-red-shoes-look-moda-navy-estilo_TRATADO

sapato-vermelho-red-shoes-look-moda_TRATADO

sapato-vermelho_TRATADO

Vocês já brincaram de compor looks no Tempo de Moda? Recomendo o exercício!

Beijos,

Júlia

Pitty Braga:
cabelo e maquiagem com estilo

Este Vestido de Letras está cada dia mais especial! Confesso que esta pesquisa prática que o blog proporciona tem efeitos sobre o corpo. Olho roupas pensando em obras de arte. Penso em mistura de cores a partir do que leio. Tudo vai se misturando e, ao mesmo tempo, se depurando: traços e significantes vão decantando, deixando restos que marcam mais claramente o estilo deste corpo que vos escreve.
Talvez a maior riqueza deste Vestido de Letras seja poder tecer a várias mãos, olhares, incluindo modos de leitura diversos. Afinal, se não fosse por isto, a publicação dos posts não se justificaria. Escreveria e guardaria aqui, em minha gavetinha, em meu corpo. Ou compartilharia com os que encontro e troco de todo modo. Com a publicação, a transmissão mais difundida e veloz tem lugar.
Valendo-me disso proposta, hoje venho transmitir para vocês uma experiência e uma dica muito preciosa. As delicadas e eficientes mãos e o olhar único que entram em cena na confecção de nosso vestido são as de Pitty Braga, nova colaboradora do Vestido de Letras. Uhu!!! (palmas para Pitty!!!). Olha ela aí, gente:
Pitty Braga, cabelo e maquiagem com estilo

Pitty Braga, cabelo e maquiagem com estilo

Publicitária no diploma, há 8 anos Pitty escolheu trabalhar com beleza (cabelo, maquiagem e estilo), universo no qual encontrou a melhor forma de expressar sua arte. Pitty Braga participa da produção de editoriais de moda e pesquisa continuamente sobre estilo, moda, penteados, técnicas de maquiagem. Fez vários cursos, inclusive em Barcelona. Viaja pelo mundo afora e vai catando inspirações e truques. Vejam algumas imagens dos editoriais com make e hair by Pitty Braga:
editorial_TRATADO
fashioncruise_3_TRATADO
Pitty faz parte da equipe do Salão Jacques Janine (frequento e recomendo), localizado em Belo Horizonte. O Jacques Janine faz a produção de cabelo e maquiagem de modelos no Fashion Cruise, cruzeiro de moda. Vejam fotos do que ela fez no Fashion Cruise:
fashion-cruise_3_TRATADO
editorial_sea_2
Justamente pelo fato de Pitty ter um interesse verdadeiro pela questão do estilo e da moda (e, claro, por ser competente a beça!), a escolhi para ser minha “produtora”. Ela agrega ao meu corpo toques que vêm do encontro dos meus desejos e propostas com o saber (prático, inclusive) dela. Há algum tempo eu estava muito incomodada com os meus cabelos. Quando vi as fotos do meu aniversário decidi tomar uma atitude. Eu havia pedido que fizessem luzes neles e estava clareando mais e mais os fios. Mas sou branca (amarelada), de cabelo muito escuro e tenho um estilo marcado por um toque mais pesado, com cores escuras. Tem uma pegada delicada, mas gosto de contrastes fortes. Então, achei que era hora de abrir mão de tentar ser uma dessas mulheres que têm uma beleza “natureza” (parece que nasceram de uma cachoeira) e voltar ao meu grau zero em termos de corte e cor de cabelo (aquele com o qual mais me identifico): franja, cabelo escuro, longo (mas não demais). A Pitty conseguiu me levar aonde eu queria. E lá estou, há dias, curtindo o visual. Bem, já estou pensando em novas invenções de moda que vou propor pra Pitty, mas por ora, estou super satisfeita!

 

ANTES de PITTY BRAGA:

 

CORTE_FRENTE_TRATADO
CORTE_lateral_TRATADOCORTE_COSTAS_TRATADO

 

DEPOIS de PITTY BRAGA:

 

CORTE_ReSULTADO4CORTE_RESULTADO_@CORTE_RESULTADO5

 

A Pitty conta o que rolou:

 

“A Julia estava com mechas douradas e me pediu pra voltar à cor natural. Adoro quando as morenas assumem sua morenice! Sugeri aproveitar as mechas e tonalizá-las dois tons mais claros que a cor do seu cabelo. O que realça o corte e a própria cor natural das medeixas. As franjas voltaram e voltaram pra ficar. Hoje quase todas mulheres podem ter uma franja. Desde que escolha a que combine melhor com seu formato de rosto e seu estilo. Franja, franjinha , franjão.” 

 

Quem me conhece sabe que sou exigente e que só indico o que realmente gosto. Pois aí está: experimentem o trabalho da Pitty! Nunca alguém acertou tão na pinta, no ponto, no corte da minha franja. A Pitty é super tranquila, gente boa, moderna, sorridente, estilosa e transmite paz. Isto tudo me parece fundamental porque sabemos que quando um corpo toca outro, há efeitos. Estou super satisfeita com o trabalho da Pitty, que imprimi lindas letras em meu corpo e neste Vestido. Toda semana teremos um novo post de cabelo e/ou maquiagem com Pitty Braga. Fiquem ligadas!

 

Recomendo demais o trabalho da Pitty e espero que vocês se dêem a oportunidade de se embelezarem e refinarem seus estilos com ela. Seguem dados para contato:

 

Pitty Braga – Cabelo e Maquiagem
Facebook – Pitty Braga (clique aí!)
Instagran – pittybraga
email- pittybraga@live.com
Salão Jacques Janine – BH 
Rio Grande do Sul, 1280, Lourdes
33373337

 

Beijinhos,
Júlia

Tempo de Moda
no Vestido de Letras

Previsao_26_07_2013

A produção de hoje foi criada com base na previsão do tempo – como sempre acontece no Tempo de Moda – e inspirada em um videoclipe do Washed Out que uma querida amiga (Luisa Horta) me apresentou. O clipe é repleto de flores coloridas, assim como este vestido florido que fisgou meus olhos desde a primeira vez que o vi, em uma vitrine. Coloquei o vestido duplicado porque entrei na onda meio psicodelic-India do clipe. 🙂

Acho interessante peças com fundo preto e estampas florais vibrantes. Este tipo de combinação/estampa tem aparecido muito em editoriais e desfiles pelo mundo afora. Quanto ao coturno, considero uma peça chave (com meia calça preta fica super charmoso). Contrastando com outras peças que têm um “cheirinho” mais romântico (ou não), conferem uma força e um peso legais às produções. Como gosto de peças mais delicadas, vez ou outra acrescento uma bota deste tipo para sair do romantismo meloso, do mamão com açúcar, do visual boa moça. O cinto eu acrescentei como uma aposta. Teria que testar se fica bem no corpo, sobreposto ao vestido que tem desenhos tão grandes na estampa. Mas acho que vestidos deste tipo pedem um cinto na cintura alta, para marcar e dividir a silhueta (pelo menos no caso de quem se assemelha mais a um retângulo ou triângulo, como eu). Como o cinto que escolhi tem uma fivela com formato mais clássico,  pode “bater” de uma forma legal com o coturno. Cabelo preso, batom, um pouco de lápis de olho e rímel. Pronto, fui!

Vestidofloral_3

Recomendo irem ao site Tempo de Moda (parceiro do Vestido de Letras) criarem vocês mesmos. Há várias peças disponíveis e vocês podem montar suas galerias de fotos, que podem servir de painel de inspirações no dia-a-dia. Além disso, muitas peças estão em promoção, com preços bons. Recomendo.

Beijinhos,

Júlia

A costura do invisível:
o efêmero também pode permanecer

Philosophy in the Bourdoir, René Magritte, 1967

Philosophy in the Bourdoir, René Magritte, 1967

Uma roupa veste um corpo. Um corpo veste uma roupa. E o que vem a ser um corpo (vivo)? Pedaço de matéria que pulsa, que se manifesta, que se dirige ao outro? Uma imagem limitada/bordejada que capturamos através dos sentidos? Um corpo é uma imagem? Um corpo é uma roupa? Onde termina um corpo e começa o resto do mundo? Como é que o resto do mundo toca o corpo?  Onde termina o corpo e começa a roupa? Como a roupa toca o corpo? Como a roupa toca o resto do mundo?

JumNakao7_TRATADO

Estas são questões que pulsam insistentemente. Mais ainda ao ver as imagens do último desfile da carreira do artista plástico e estilista brasileiro (neto de japoneses) Jum Nakao. Em 2004, na Semana de Moda de São Paulo (SPFW), Nakao apresenta, no desfile que encerra sua participação no evento, imagens que abrem uma brecha para o que usualmente não vê na moda: “A costura do invisível”. O artista apresenta uma coleção que promove um cruzamento entre o estilo das roupas do final do século XIX (passado) e bonecos playmobil (contemporâneo). Presentifica a questão da efemeridade. As “fadas playmobil” – como ele as denominou – vestem roupas delicadíssimas, feitas de papel vegetal e cortadas a laser – ou seja, materializações da leveza e da fragilidade. De longe, não se podia perceber qual era o material usado nas roupas, apenas que elas tinham um aspecto translúcido, como um véu – que convida o olhar a ver.

Ao final do desfile, ao entrarem em fila para encerrarem a performance, as modelos surpreenderam a platéia ao rasgarem e destruírem as roupas que vestiam, provocando um rompimento com o protocolo esperado. A des-costura, a presentificação da efemeridade. Um gesto que permite perceber a moda de outra forma, permite ver além da imagem e pensar/sentir o processo de produção da vestimenta e de costura dela com/no corpo. Afinal, destruída a roupa, o que resta? O resto é o conceito, uma elaboração simbólica que marca o corpo do estilista, das modelos, dos espectadores, cada um de uma forma.

“A constura do invisível” permite olhar para um ponto cego (o do cruzamento corpo-imagem-letra-roupa), em um universo (moda e mais…) fixado à imagem. Jum Nakao afirma que uma das frases que nortearam a criação deste desfile é a seguinte: “o efêmero também pode permanecer”. Sim, pode. Desde que a costura vá além do imaginário, criando um ponto de letra entre o corpo e o que ele veste no mundo, isto é, amarrando o real (o que pulsa), o imaginário (os contornos que criamos onde não há) e o simbólico (a linguagem que fisga o corpo). A elaboração simbólica e também no ato permite isso. A roupa se vai, mas a letra permanece. Valeu pela sua costura do invisível, Nakao! Pela sua letra, pelo deslocamento… Mesmo!

JumNakao2_TRATADO

JumNakao1_TRATADO

JumNakao5_TRATADO

JumNakao4_TRATADO

JumNakao33_capa_TRATADO

JumNakao3_TRATADO

Neste caso, vale a pena assistir o desfile em movimento:

A costura do nosso Vestido de Letras também busca tocar o invisível. Em ponto de letra.

Beijos,

Júlia