Vestido de folhas,
Vestido de letras

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Prossigamos com a nossa semana dedicada aos vestidos. Ao invés de pedir habituais e formais desculpas pelo sumiço nos últimos dias, ressalto que nosso compromisso não é com o relógio (com o tempo cronológico), mas com um certo desejo de escrita e refinamento da letra para os quais há um tempo outro, incerto.

O que está em causa, agora, especificamente, são os vestidos e a natureza. Passamos pelo traço de Gauguin, pelo seu desejo de conhecer o essencialmente natural. Mas antes mesmo que nos voltássemos para a obra deste pintor, a querida Lília Lima – cujo olhar tem sido preciso na leitura e na conjunta feitura da trama do nosso Vestido -, enviou-me algumas fotos de um projeto delicado que me capturou: Fashion in Leaves. Moda em folhas, Moda nas folhas. Indo além, podemos escutar no “leaves” (a princípio, “folha” na forma plural), o verbo “leave” (partir, conjugado na terceira pessoa do singular). Sobra uma preposição (in), mas, deixando-a de lado, temos “Fashion Leaves”. A moda parte.

Em Fashion in Leaves, Tang Chiew Ling, artista/designer da Malásia, se pergunta: é possível fazer moda com folhas? A artista se coloca esta questão a partir de sua prática, na qual explora diversos materiais para fazer poesia. Ling catou no jardim as folhas desperdiçadas pelas árvores e passou a tecer vestidos. Olhou para as folhas querendo lê-las, buscando nelas beleza, possibilidades. Encontrou diferentes formas, rugosidades, linhas, tons, variações. A partir disso, tendo como foco a elegância, ela teceu vestidos que se transformam com o tempo. Tecidos que mudam de cor/tom com o passar das horas. Por fim, ela desenhou partes de corpos de mulheres e, assim, vestiu a natureza de feminilidade.

Enchantée, Tang Ling. Merci.

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Audrey Hepburn se deu bem nessa.

Até mais!

Vestidas de Gauguin

Paul Gauguin (1848-1903), Two tahitian women, 1899

Paul Gauguin (1848-1903), Two Tahitian Women, 1899

Já era tempo de trazer Gauguin para pintar este vestido com as cores do que era, para ele, “a grande realidade fundamental”: a (sua) natureza. A relação dele com ela (esta fêmea que é a origem de todo mundo, de todo o mundo, sendo ela o mundo) não foi (apenas) a de um observador deslumbrado. Aos 35 anos – casado, pai de cinco filhos, artista nas horas vagas e frequentador dos círculos de arte de Paris -, tocado pela estética do Simbolismo, Gauguin embarca para sempre em uma viagem.

Por considerar que o estrangeiro se encontrava necessariamente no estrangeiro, Gauguin viveu durante anos em algumas ilhas do Pacífico, convivendo com os nativos e estabelecendo com eles uma relação de admiração. Traçou caminhos tortuosos, penosos. Em meio às agruras, seu olhar esteve atento às delicadezas, às mulheres e seus trejeitos, às suas formas, olhares e sutilezas. Descreveu assim a “Eva Tahitiana”: “muito sutil, muito sábia em sua ingenuidade” e, ao mesmo tempo, “capaz, ainda, de passear nua, sem vergonha”. Gauguin aponta aí para a relação da mulher com seu corpo, para a sensualidade que inclui e vai além do apelo que se faz ao olhar/corpo/desejo do outro.

O quadro Two Tahitian Women parece uma condensação dessa afirmação. Estão ali: os olhares voltados para o fora de campo do quadro, as frutas e flores como adereços para os corpos, os corpos como adereços da natureza, a cor da pele que reflete cores do fundo da pintura, as mãos sutilmente colocadas, os corpos posicionados de modos distintos (remetendo a poses de gregos e egípcios), os vestidos que escorrem e deixam ver os seios… Os vestidos. Pausa. Volto ao vestido, elemento cheio de força neste quadro, elemento que emoldura o sexo. Volto ao vestido, elemento que move esta escrita. Queria, antes de tudo, hoje, escrever sobre um vestido. Queria escrever um vestido e assim, vestir-me de contornos fluidos. Parti em busca de Gauguin pois o vestido, tal como o concebo, engancha o corpo à sua natureza (também a esta de Gauguin). O vestido confere contorno, fluidez e consistência ao corpo, a este corpo hoje tão virtual. Vestido: elemento que escorre, pelos corpos e pelas telas aos quais se mistura. Daí a sensualidade. O vestido é um véu sem fim, do sem fim. Bem, este é o começo. O começo de uma semana dedicada aos vestidos. O começo do fim de um ciclo. Mais, em breve.

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Os vestidos acima foram inspirados na obra de Paul Gauguin e fazem parte da coleção de Outono/2012 da grife italiana Dolce Gabbana.

Roy Lichtenstein está na moda

Lichtenstein está super pop. Em 2013 foi inaugurada a exposição “LICHTENSTEIN: a Retrospective”, a primeira retrospectiva internacional da obra do artista. A exposição foi primeiramente apresentada no país de origem do artista, na National Gallery of Art (Washington, D.C.), em seguida passou pela Tate Modern (Londres) e agora se encontra no Centre George Pompidou (Paris), até 4 de novembro de 2013 (quem tiver a chance de ver, aproveite). Mais de cem (125) obras do artista integram a exposição e revelam fases pouco conhecidas de sua produção.

Nesta fonte bebem outros artistas. A moda permite parcerias bem sucedidas com o(s) estilo(s) Roy. Ao que parece, no entanto, os estilistas sempre se inspiram na Pop Art de Lichtenstein, explorando pouco as outras fases da obra do artista. De todo modo, os efeitos são interessantes, cheios de vida – em meio a temas bélicos.

Primeiramente, TOM FORD com ROY LICHTENSTEIN:

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E mais: na London Fashion Week 2013 apareceram repetidas vezes o contorno bem marcado, as cores, formas e temas explorados por Roy Lichtenstein:

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Roy Lichtenstein, Nude on beach, 1977
Michael Van Der Ham (esquerda, superior) & Osman (direita, inferior)

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Roy Lichtenstein, Meat, 1962
Christopher Kane

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Roy Lichtenstein, Baked potato, 1962
Vivienne Westwood, Red Label

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Roy Lichtenstein, Still life with goldfish, 1974
Fashion East, Claire Barrow

A pintura Nude on beach é incrível! E os peixinhos dourados deste último quadro?

Transposição da tela para o corpo. Ao olhar estas imagens, podemos pensar sobre possíveis métodos para transpor traços de obras que nos fisguem – pelo estilo – para o nosso vestir.

Até mais!

Fonte: http://www.tecnoartenews.com/

Pitty Braga:
moldura para o olhar

O movimento da Pop Art é marcado pela abundância de cores fortes, vivas, contrastantes. As moças (girls) de Roy Lichtenstein têm cabelos chanel, aparência de boneca. O artista deixou como traço característico de sua arte (pop) o emprego repetitivo de bolinhas, a apresentação de loiras de cabelos curtos, os grafismos, as onomatopeias explodindo na tela. Mas, se até o papa é pop, as morenas também podem ser. 

As obras de Roy Lichtenstein inspiram muitos por aí. A partir de um editorial da Vogue Japão clicado pelo fotógrafo Lacey, com maquiagem de Andrew Gallimore e styling de Beth Fenton, Pitty Braga fez uma produção (cabelo e maquiagem) com toques de Pop Art. Um vestido/enfeite para o rosto, que emoldura o olhar e faz com que realmente algo novo se produza no corpo através dos toques das mãos, dos pincéis, das cores… algo para além das aparências.

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mao

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costas

lateral

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O mais interessante de uma produção como esta é que ela é transitória. Tantos toques e retoques efêmeros. Mas algo resta no corpo, no olhar.

Seguem dados para contato da Pitty Braga:

Pitty Braga – Cabelo e Maquiagem
Facebook – Pitty Braga (clique aí!)
Instagran – pittybraga
email- pittybraga@live.com
Salão Jacques Janine – BH 
Rio Grande do Sul, 1280, Lourdes
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Abraços,

Júlia

Pop Art:
O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes?

Há uma ironia nessa pergunta, que intitula a obra/colagem de Richard Hamilton (datada de 1956), a qual se tornou um paradigma do movimento da Pop ArtUm movimento que expõe a massificação (em larga escala) operada pela cultura popular alimentada (ou melhor, super alimentada) pelo capitalismo. Reproduções em série, cópias de cópias, ícones do consumo, símbolos que se sustentam na lógica do “produto”. Esses eram temas tomados lúdica e ironicamente por artistas como Roy Lichtenstein e Andy Warhol, nas décadas de 50 e 60 (principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos), para escancarar que da lógica do “produto”, do “mercado” (consumo), da “reprodução” nem a arte escapa. O que os artistas fazem, então, é se apropriarem desta lógica para escancará-la/denunciá-la.

Esta semana o Vestido de Letras será invadido pela Pop Art. Começamos apresentando a colagem de Richard Hamilton, marco do início do movimento em questão:

O que torna os lares de hoje tão >>> Richard Hamilton (1956)

O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes?, Richard Hamilton (1956)

O que precisamos “colar” em nossos lares, em nossos corpos, para sermos pop? Dá uma olhada nos blogs (como este?), no facebook e no Instagram para você ter idéias. Parece que a lógica é a mesma…

Mais uma inspiração, para começar o papo… Uma obra de Roy Lichtenstein cujo traço – que envolve a estética dos cartoons, o uso de onomatopéias e de imagens de mulheres loiras, cabelos chanel – vive sendo reproduzido até os dias de hoje (é tendência). O interessante é que a reprodução é a chave do movimento, que visa escancarar o vazio que o capitalismo potencializa.

Sleeping girl, Roy Lichtenstein (1964)

Sleeping girl, Roy Lichtenstein (1964)

Esta é a entrada. Logo logo tem mais.

Boa semana!

Júlia

O traço de Pitty Braga

Pediu que  vestisse de uma fantasia. Ondas negras e pontiagudas sobre os olhos, cabelos com volume e momentos, um outro tempo, a delicadeza amarrada à força. Aquela que a reveste conseguiu levá-la lá. Está aí o resultado:

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 Outra possibilidade da mesma proposta (cabelo parcialmente solto):

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Este maxi-delineador é um encanto. Para que tirar?

Pitty consegue deixar um traço assim: firme, lindo. Nem preciso ficar falando muito, não é?!

Seguem dados para contato com a Pitty:

Pitty Braga – Cabelo e Maquiagem
Facebook – Pitty Braga (clique aí!)
Instagran – pittybraga
email- pittybraga@live.com
Salão Jacques Janine – BH 
Rio Grande do Sul, 1280, Lourdes
33373337

 

Abraços calorosos,

Júlia

Tempo de Moda
no Vestido de Letras

Tons terrosos remetem ao telúrico (ao que é da terra), ao que é do chão, aonde os pés pisam e deixam seus traços. Remetem a sítio, lenço na cabeça, horta, montanha, animais, mão no barro. Aos metais, às rochas, à poeira que dança com o vento. Ao barroso, a terracota e definitivamente a uma certa sobriedade. Por isso mesmo, aos tons terrosos cabe acrescentar algum brilho, sem perder a simplicidade. Acredito que investir em preto, branco e tons terrosos é um bom caminho para a elegância. Ao lado do corpo, da roupa, brotam as flores. A roupa é a base para as cores que girarão em torno dela, que brotarão nas palavras. Sim, estou inspirada pelas imagens da coleção Flyinglow, da Julia Valle. O caminho se constrói é com o pé, sentindo a terra.

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Criei este look no portal Tempo de Moda, onde a criatividade pode gerar combinações interessantes. Mais uma vez, sugiro que experimentem!

Bom fim de semana!

Beijos,

Júlia

Flyinglow:
vôo e brilho de Julia Valle

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Conforme prometido, exibo, aqui, peças da recém-lançada coleção Flyinglow, da estilista mineira Julia Valle. Roupa com leveza e vôo. As peças produzem um efeito singular em cada corpo.

Vestido seda

Vestido seda

Vestido com vôo

Vestido com vôo

Vestido triângulo

Vestido triângulo

Vestido moulage cinza chumbo

Vestido moulage cinza chumbo

Casaco Moulage Plissado

Casaco Moulage Plissado

Bermuda leve

Bermuda leve

Regata print

Regata print

Saia

Saia prega

Casaco boucle costas

Casaco boucle costas

Vestido moulage

Vestido moulage

Vestido print

Vestido print

Overtule

Overtule

Duas coisas são preciosas em se manter um blog: a pesquisa que é suscitada e o compartilhamento do que se considera precioso.

Quem tiver interesse em ver a coleção de perto e adquirir alguma peça pode ligar para a Valquíria (mãe da Julia) e agendar uma visita ao ateliê da estilista – Casa Ramalhete, rua Ramalhete, 611, Serra, Belo Horizonte. O telefone da Valquíria é 8806 8517.

Abraços de asas,

Júlia

Descontinuum continuum

Um vestido de letras, literalmente. Um vestido revestido de palavras. Elas estão lá, inscritas. O que se tem a fazer – como num jogo de criança – é criar as ligações, de uma a outra, continuamente, sempre descontinuadamente. Entre uma palavra e outra: pausa, branco, não-palavra. É preciso costurar o ar até ir ao encontro do próximo significante a ser fisgado. De uma palavra à outra, infinitamente, mantendo o começo prosseguindo, a roupa vai ganhando forma. O corpo vai escrevendo e sendo escrito. O simbólico fisga o real, em alguns pontos. Vestido-pele-letra.

Nosso vestido começa a ser moldado por outros, antes de tomarmos a palavra. Um dia, a linha passa pelas nossas mãos. O que escrever? Que pele se pode tecer?

Poderia haver imagem mais literal do Vestido de Letras?

Esta é mais uma obra de Julia Valle, estilista/artista pesquisadora (www.juliavalle.com). Do site da artista retiramos o seguinte texto sobre a obra:

“O Continuum é um projeto cross-media e internacional, buscando colaborações infindáveis entre pessoas criativas de todo o mundo, a fim de produzir idéias autênticas e sensações sensoriais múltiplas. Foi fundado por Maja Mehle (Eslovênia) e Julia Valle (Brasil) e teve sua primeira exposição em Ljubljana, Eslovenia, na galeria SQUAT. Apresentou peças de vestuário exclusivas, fotografadas por Aljosa Rebolj, vídeo por Amir Admoni e trilha sonora por Alex Drimonitis. Abaixo, algumas imagens do projeto e arquivos para download.

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A bela nas fotos é a artista.

Toda minha admiração pelo trabalho desta moça tão querida.

Julia Valle acaba de lançar sua nova coleção – Flyingglow. Amanhã posto fotos das peças.

Beijos e boa semana!

Júlia

Tempo de Moda no Vestido de Letras:
Olivia Palito forever

Preto, branco e vermelho. Eu poderia me vestir assim todos os dias (já abordei essa mistura aqui). É a combinação que mais encontra lugar em meu corpo. Por quê? Não sei. O toque navy (estilo marinheiro) é lindo. E a Olívia Palito faz parte das primeiras figuras com as quais convivi na infância. Sempre admirei a elegância dela. Confesso que há uma facilidade e praticidade em apostar em uma combinação que se sabe que funciona (pelo menos para os seus olhos). Mas a mistura nem é tão fácil porque o limite entre uma produção interessante e elegante e uma produção muito infantil é tênue. Neste sentido, a escolha de peças com formatos mais clássicos oferece certa segurança. E prefiro quando o vermelho aparece nos acessórios – como pontos de cor – especialmente nos pés.

Desta vez me inspirei em looks já criados para montar minha produção do dia no Tempo de Moda. Resolvi que o vermelho apareceria nos pés e escolhi este sapato lindo (mistura de boneca com scarpin). Achei o modelo dos mais acertados que já vi (um dia ainda terei um desses sapatinhos vermelhos). Shorts porque os raios de sol esquentam nosso belo horizonte repleto de lindos ipês (maravilha). Mistura de preto e branco. Pronto! Para a brisa da noite, meia calça e lenço no pescoço (quem sabe em tom caramelo, como em uma das fotos-inspiração). Adorei a combinação!!!

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Imagens que inspiraram a composição:

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Vocês já brincaram de compor looks no Tempo de Moda? Recomendo o exercício!

Beijos,

Júlia